PF indicia 27 pessoas de OS; firma ‘laranja’ ficava a 100 m da prefeitura de Embu

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PF indicia 27 pessoas por desvio de R$ 40 milhões da saúde praticado pela AMG e subcontratadas, como a Slim, que ficava em sobrado na av. São Paulo | AL/Verbo

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

A Polícia Federal indiciou na quarta-feira (22) 27 pessoas por desvio de R$ 40 milhões de recursos da saúde por meio de uma organização social de fachada, sem nenhuma capacidade técnica para gerenciar serviços como prontos-socorros, a AMG (Associação Metropolitana de Gestão). A OS firmou contratos fraudulentos com cinco prefeituras paulistas, de Hortolândia, São Vicente, Cajamar, Itapecerica da Serra e, sobretudo, Embu das Artes.

Dois homens estão presos preventivamente por ordem do Tribunal Regional Federal em São Paulo (3ª Região). O Superior Tribunal de Justiça negou vários pedidos de habeas corpus ingressados pelos indiciados. Dois médicos estão foragidos. Eles são acusados de organização criminosa, lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos, superfaturamento em serviços e fornecimento de medicamentos, fraude em licitação e uso de documento falso.

Os integrantes da organização levavam uma vida de luxo com os valores desviados da saúde pública, com mansão em refúgio paradisíaco, em Ubatuba (litoral norte), além de outros imóveis em condomínios fechados de alto padrão na região metropolitana da capital, carros importados esportivos avaliados em mais de R$ 2 milhões, lanchas, armas e muito dinheiro escondido, R$ 700 mil, boa parte achada em um escritório bunker da própria OS.

A Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da PF descobriu também que a verba desviada serviu para pagar grande reforma na residência de um casal de médicos – o imóvel foi adquirido em maio, avaliado em mais de R$ 5 milhões. Um dos presos é um guarda municipal de Cotia responsável por sacar os valores. Ele retirou R$ 18 milhões em espécie em quantias fracionadas para tentar burlar o sistema contra lavagem de dinheiro.

Ainda segundo a PF, quando não fazia os saques, o guarda prestava escolta armada para outra pessoa realizar o serviço, sua mulher. Para checar a destinação de vultosas quantias em espécie movimentadas pelo casal, os agentes acompanharam um dos saques e observaram o GCM esperar dentro do carro enquanto a esposa entrava em uma agência bancária em São Roque (SP). Após o saque, ela se dirigiu a outro veículo e foi seguida pelo marido.

Imagens do circuito interno de um centro comercial na Granja Viana, em Cotia, mostram três homens ao se dirigirem à sala da AMG, mas dois não levam nada e apenas um, de jaqueta, carrega uma mala preta de rodas, segundo os agentes, cheia de dinheiro. Dois minutos depois, um deles, o que aparece atrás no instante da chegada, de paletó e gravata, deixa o local com um pacote de papel, a parte dele do dinheiro desviado, segundo a PF.

A PF deflagrou a Operação Contágio em abril e novembro. A AMG firmou contratos com os cinco municípios que superaram R$ 300 milhões. Só em Embu a OS recebeu cerca de R$ 230 milhões, incluídos os R$ 11 milhões pelo hospital de campanha, repassados pelo governo Ney Santos (Republicanos). Uma grande quantia foi transferida para outras empresas vinculadas aos controladores da OS, também sem qualquer capacidade técnica – “laranjas”.

Constituída em 2004 como entidade de assistência social, a OS mudou de ramo apenas em 2018, para saúde, mas com documentos fraudulentos com os quais conseguiu fechar contratos com várias cidades. O presidente era um jovem de 28 anos recém-formado veterinário, Fabio Cardoso Omito, mas a OS era efetivamente controlada por vários médicos, principalmente Carlos Eduardo Bernardi, o “Dr. Cadu”, e Fabio Fortunato Nascimento Gama.

Uma das empresas subcontratadas foi a Slim Serviços de Saúde Eireli. Segundo a PF, a AMG repassou à empresa em pouco mais de um ano (março de 2019 a julho de 2020) exatos R$ 41.148.430,47. Embora declarasse ter como atividade atendimento em prontos-socorros, a Slim tinha como dono um auxiliar de escritório com salário de pouco mais de R$ 1,3 mil. Logo após a OS assinar contrato com a prefeitura de Embu, a empresa mudou de dono.

O novo dono passou a ser um homem com domicílio em prédio modesto no centro de São Paulo e remuneração de R$ 1.348,60. Mas, entre junho de 2019 e julho de 2020, recebeu da empresa R$ 29.720,00. Recebeu ainda R$ 3.936 em 11 transferências de Carlos Eduardo. Ele era porteiro do condomínio do médico. Segundo a PF, ele relatou que “Dr. Cadu” pediu sua “ajuda” para compor o quadro societário da Slim, “para camuflar os reais proprietários”.

“Ela [a OS] não possuía capacidade para gerir os contratos. Contratou oito empresas de fachada, integradas por pessoas que não têm qualificação técnica nem renda compatível com a função, comprovadamente ‘laranjas’, em imóveis desocupados ou sem estrutura alguma para prestar serviços para recebimento de milhões de reais. Em uma delas, um médico acabou por colocar o seu porteiro como presidente”, disse o delegado da PF André Barbieri.

A Slim repassou R$ 1.541.308,66 para Carlos Eduardo e R$ 1.666.323,64 para Fabio Gama. O VERBO não conseguiu contato com a defesa dos dois. No inquérito, um dos médicos procurados aparece posando com metralhadoras e com o rosto impresso numa falsa nota de 100 dólares, o “Dr. Cadu”. A Slim tinha como sede uma pequena sala em cima de uma serralheria na avenida São Paulo, 107, Jardim Sílvia, a apenas 100 metros da prefeitura de Embu.

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