RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Uma moradora de Embu das Artes levou a filha com febre ao Pronto-socorro Central e reclamou que teve de dar banho na menina em pé numa cadeira para baixar a temperatura por falta de simples banheira no PS. A secretária-adjunta Maria Serrano (Saúde) disse que o PS tinha o item, e expôs o quadro da criança para passar a recriminar a mãe em rede social. Ela disse que a jovem deixou a filha ficar três dias com febre alta para só depois levar ao PS.
A recepcionista Cris Souza levou a filha de 1 ano e 8 meses ao PS na sexta e ficou revoltada. “Alô, prefeito Ney Santos, estou aqui pra deixar minha indignação com o Pronto-Socorro de Embu, o dinheiro ficou tudo na decoração de Natal da praça de Embu? Fiquei indignada, levei minha filha com 40 graus de febre, e o atendimento, uma merda, tive que baixar a temperatura da minha filha em uma cadeira porque o hospital não tem uma banheira”, disse no Facebook.
O protesto da mãe logo foi parar em um grupo sobre a saúde de Embu no WhatsApp em que está Serrano, que disse que ia verificar. A adjunta foi questionada por uma liderança a postar fotos para mostrar que o PS tinha banheira. Ela disse estar “terminando de resolver alguns problemas no PS e já posto, muito cheio”. Só 50 minutos depois postou. Publicou cerca dez fotos de banheiras, impecáveis. A interlocutora estranhou. “Novinhas essas banheiras”, ironizou.
Serrano reagiu. “Tem pra todo tipo. Banheira de criança não pode ser velha, né? Tem nova. Tem com muito uso. Com uso médio”, disse. Outra pessoa do grupo contestou. “Essas são da maternidade, não conta, nunca que o funcionário irá subir na maternidade pra pegar uma banheira emprestada”, disse. A adjunta rebateu. “Me desculpe, vocês estão equivocados, pode sim lá, e no Cme [central de material e esterilização] é o lugar ideal para estar guardado”, falou.
Antes do debate, Serrano relatou o atendimento da paciente no PS, de que “a mãe informa que estava apresentando febre a [sic] três dias de 40,4 graus”. Em seguida, responsabilizou uma funcionária. “Houve falta de atenção por parte da colaboradora em não fornecer a banheira na unidade e fica na central de material [e] esterilização. Será aplicada uma menina disciplinar na funcionária. E reorientar os demais funcionários para que isto não ocorra mais”, disse.
Serrano logo passou a recriminar a mãe. “Agora me desculpe, a mãe deixa a criança com febre 3 dias e só leva hoje, bem responsável, ela quase dando uma convulsão, né”, disse. Diante das perguntas dos membros do grupo, a adjunta insistiu, com novas críticas à moradora. “Ninguém questiona a mãe, deixando 3 dias com febre e reclama de uma banheira. A criança foi atendida, medicada e colheu exames, a qual [sic] a mãe não queria colher”, disparou.
Serrano não deixou de repreender os críticos, com novo prejulgamento à moradora. “Vocês são engraçados, se apena no mínimo para criticar, porém ouve [sic] um errado [erro] por parte da mãe”, disse. Em seguida, ela atribuiu, de novo, a falha da não disponibilização da banheira à pessoa que atendeu a mãe, apontando, estranhamente, para a condição da funcionária. “Porém, a profissional deveria ter mais atenção. A profissional inclusive é concursada”, disse.
A primeira a questionar disse que “agora quando o funcionário disser que não tem o paciente seja orientado a buscar a direção”. Serrano disse que “já pedi para conversar com os funcionários”. Uma enfermeira do PS, porém, passou também a recriminar a mãe ao elogiar o comentário da adjunta. “[…] O maior problema foi a temperatura alta [da criança] há 3 dias e a única preocupação da mãe foi reclamar da banheira?”, disse. A adjunta fez foi aplaudir.
Alheia às críticas sofridas por não estar no grupo, a mãe passou a ser alvo, logo depois da repreensão de Serrano, de um questionamento semelhante em postagem que fez, em tom agressivo. “Você esperou ela chegar aos 40º para levar no médico? Você está de brincadeira com a nossa cara”, disse uma pessoa identificada como Dannilo Martins. Cris rebateu. “Ei, você me conhece? Sabe da minha vida? […] Saí do trabalho às pressas para ir pegar minha filha.”
A mãe recebeu apoio. “Dannilo, você é pai? Se sim, você não deve ser presente, febre aumenta do nada. Já fiquei com minha filha em observação por 40 minutos e a febre estava estável […] com 37º. Cheguei em casa em 20 minutos, a febre voltou para 41º, tive que dar banho com álcool e dar remédio novamente”, disse Rose. “A foto de perfil dele já diz quem ele é”, rebateu Cris, sobre a imagem de Ney com os então candidatos a deputado Ely Santos e Hugo Prado.
Procurada pelo VERBO, Cris disse que tomou até choque. “Foi o cúmulo, como que um pronto-socorro não tem uma banheira para eu dar banho na minha filha? Por que se negaram a dar? A minha filha fica de pé, e se fosse um bebê de colo? Me molhei toda, o chuveiro era um jato muito forte. Chegou uma enfermeira que não sei o nome e disse ‘por que ela está fazendo escândalo?, desliga o chuveiro e tira ela daí’. Eu fui desligar e tomei um choque”, relatou.
Cris afirma que cuidou da filha. “Ela começou a dar febre na terça, e eu estava na minha sogra, em Itaquaquecetuba, mas passou. Na quarta veio de novo, fomos na UPA lá, passou antibióticos e falou que se até sábado não melhorasse era para retornar. Na sexta voltou a febre, de repente subiu a 40º. Eu estava trabalhando, liguei para o meu marido, que foi pegar ela. Liguei para a moça que trabalha comigo, saí mais cedo e fui com ele levar a minha filha”, contou.
Cris protestou por ter sido exposta em rede social pela secretária-adjunta. “Acho que eles querem achar alguma falha minha, sendo que a falha está no hospital [PS]. Eu acho o cúmulo do absurdo, sendo que ela nem me conhece. Posso processar ela por me expor assim? Ela está defendendo o prefeito, né? Que rapidinho tiraram fotos da banheira e mandaram [no grupo]. Sendo fotos de banheira que parece que comprou na hora”, afirmou a mãe à reportagem.
OUTRO LADO
O VERBO indagou Serrano sobre julgar a moradora – “antes de expor e recriminar a mãe, a senhora conversou com ela para saber o que aconteceu?” Ela não quis responder. O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Robson Borges, reprovou a postura da adjunta. No grupo, porém, ele não falou nada. “A população não pode aceitar jamais nenhum tipo de opressão, desrespeito de pessoas que prestam ou têm que fornecer serviços à população”, disse.
Esses vagabundos do PS estão querendo protejer o Prefeito mesmo, no setor público muitos comem na mão dele. Vou orientá-la a entrar com uma ação por danos morais!