Vereador afirma que médico de Ana Clara não é pediatra; ‘prefeito lixo’, diz mãe

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O médico que atendeu Ana Clara da Silva Santos, de 1 ano e 3 meses, que morreu no dia 16 de agosto após passar no Pronto Socorro Central de Embu das Artes, não deveria estar no consultório para examinar crianças. Elias Federico Valverde Claros seria ginecologista, e não pediatra. Ana Clara, com quadro de vômito, veio a óbito após Claros não a encaminhar para tomar soro ou outra medicação no PS e sugerir dar em casa à bebê refrigerante para hidratação.

Com a filha mal desde que chegou da creche, a estudante Rayane Gomes, 18, levou Ana Clara no dia seguinte ao PS e foi atendida por Claros. “Falei que a minha filha passou a madrugada toda vomitando. Ele riu e disse: ‘A madrugada toda? Não tem como, pode ser que ela vomitou, parou e vomitou de novo’. Eu falei: ‘Mas ela quase não dormiu. De manhã, começou a vomitar verde, não tinha mais nada no estômago, porque vomitou a madrugada toda’”, conta.

Após examinar, Claros disse que a bebê não estava desidratada e não precisava tomar soro ou outra medicação no PS. “Só passou alguns remédios que a gente já estava dando. Ele falou: ‘Pode continuar dando que até amanhã ela vai estar melhor’. Se ela não quiser comer, não força. Força só tomar líquido, nem que seja refrigerante, para não se desidratar’”, lembra Rayane. A bebê tomou água e suco, mas ao mamar vomitava. No fim da noite, mamou e dormiu.

Às 2h da madrugada, Ana Clara começou a soltar leite pelo nariz e ouvido e a se debater. Levada de novo ao PS, veio a óbito. “Ela já estava de lábio roxo. Mas [o médico] falou que não precisava pôr no soro, atendeu em cinco minutos, deu atestado – de trabalho ainda – para ficar dois dias sem ir a creche e a liberou”, diz Rayane. “Ela estava fraquinha porque vomitou muito. Como o médico manda dar ‘refri’ e ainda debocha de sua cara?”, reage a avó Josiene Gomes.

Questionado pelo VERBO, o secretário Raul Bueno (Saúde) não soube dizer a nacionalidade do médico e hesitou sobre se era pediatra. “Se ela entrou pela porta [comum, não de emergência], deve ter sido um pediatra. Preciso consultar, ele é médico da OS [organização privada AMG], não conhecemos todos os médicos”, alegou. Horas depois, ele enviou um certificado do médico de curso de especialização em pediatria clínica com carga horária de 420 horas.

Após grande repercussão da reportagem sobre a morte de Ana Clara, os vereadores Edvânio Mendes (PT) e André Maestri (PTB) entraram na Promotoria de Justiça para cobrar apuração transparente do caso. “Entramos com uma representação no Ministério Público, cobrando transparência do atual governo, há exatamente um mês houve um óbito no Pronto-Socorro Central de uma criança. Existem vários indícios de negligência médica”, afirmou Maestri.

Edvânio citou outra morte denunciada como negligência e disse que o médico que atendeu a bebê não é pediatra. “No ano passado, foi a Victória [13, que morreu] na UPA Santo Eduardo. Agora, a Ana Clara […] Não podemos deixar que [atue] um médico que fala que é pediatra, [sendo que] é ginecologista, ele atende em vários locais. Fizemos uma moção de repúdio, e um requerimento, chamando o secretário para estar aqui e dar satisfação à população”, disse.

A mãe de Ana Clara compartilhou o vídeo dos vereadores e responsabilizou o prefeito Ney Santos (Republicanos) pela morte da filha – em ação vista como admissão de erro médico, Ney foi até a casa da família oferecer advogado, e o assessor Paulo Vicente pediu para não chamar a imprensa. “Quero justiça. Isso não vai ficar assim… Up Como um ginecologista atende uma criança se passando por pediatra [?] Que melhoria você quer dar pra comunidade, seu prefeito lixo”, escreveu a jovem.