Bebê de 1 ano com vômito morre após médico do PS de Embu mandar dar ‘refri’

Especial para o VERBO ONLINE

Raiane segura atestado de óbito de Ana Clara, de 1 ano, que morreu após ser atendida pelo médico Elias Claros no PS de Embu | Adilson Oliveira/Verbo/Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Uma família de luto e revoltada pela perda de uma criança depois de passar em pronto-socorro de Embu das Artes. A estudante Rayane da Silva Gomes, 18, moradora do Jardim Tomé, levou no dia 15 de agosto a filha Ana Clara, de 1 ano e 3 meses, ao PS Central com quadro de vômito e viu a menina morrer após ser atendida por um médico que não a encaminhou para tomar nenhuma medicação na unidade e sugeriu dar em casa à bebê refrigerante para hidratação.

Com a filha mal desde que chegou da creche, Raiane levou Ana Clara no dia seguinte ao PS Central e foi atendida pelo médico Elias Claros. “Eu falei que a minha filha passou a madrugada toda vomitando. Ele riu e disse: ‘A madrugada toda? Não tem como, pode ser que ela vomitou, parou e vomitou de novo’. Eu falei: ‘Mas ela quase não dormiu. De manhã, começou a vomitar verde, não tinha mais nada no estômago, porque vomitou a madrugada toda'”, conta.

Cercado de seguranças, Ney (de boné), com o secretário Raul e assessor Paulo Vicente, fala com a família de Ana Clara; avó Josiene | Adilson Oliveira/Verbo

Após examinar, o médico disse que a bebê “não estava com o peito cheio, viu que estava fazendo xixi normal, não estava desidratada, não tinha o porquê pôr no soro e nem medicar [no PS]”, diz Rayane. “Só passou alguns remédios que a gente já estava dando. Ele falou: ‘Pode continuar dando que até amanhã ela vai estar melhor’. Depois, falou: ‘Se ela não quiser comer, não força. Força só tomar líquido, nem que seja refrigerante, para não se desidratar'”, relata.

A bebê aceitou água e suco na mamadeira, mas ao mamar vomitava. No fim da noite, ela mamou – pela última vez – e desta vez não pôs para fora, e dormiu. “Às duas horas da madrugada começou a sair leite pelo nariz e pelo ouvido dela, ela passou a se debater. Vim correndo para a casa da minha mãe, mas quase já não tinha mais batimentos cardíacos. Fizemos os primeiros socorros, e levamos de novo ao PS. Mas ela veio a óbito [dia 16]”, conta a mãe, triste.

Treze dias depois, no dia 29, servidores da prefeitura abordaram a avó de Ana Clara sobre a ida da Carreta da Saúde ao bairro. Josiene Gomes falou sobre a morte da bebê e o médico. No dia seguinte (30), Paulo Vicente, assessor do prefeito Ney Santos, procurou a dona de casa. “Ele me chamou de canto e disse: ‘O médico que a sra. deu o nome não existe no pronto-socorro’. Dei um grito e falei: ‘Existe, sim, não é um fantasma, atendeu a minha neta'”, afirma.

Paulo Vicente pediu para descer até a casa da família para conversar. “A gente falou que estava pensando em chamar a reportagem [imprensa]. Ele disse: ‘Não, não precisa chamar, isso só vai roubar o tempo, eles vão ficar na porta de vocês. Só vai crescer mídia, não vai adiantar nada, não vai resolver o problema’. Sobre o médico, ele disse também para não comentar com ninguém até eles tentarem resolver. E falou que o Ney Santos queria vir aqui”, lembra a vó.

No dia 31, Ney foi até a família. “Mas não quis entrar [em casa], ficou na viela, veio com seguranças”, diz Rayane. “Ele falou que afastaram o médico. Falei: ‘Mas agora ele existe? Seu assessor falou que não existia’. E ele: ‘Existe, a gente já afastou'”, recorda Josiene. Ney ofereceu advogado “se a gente quisesse ir atrás dos nossos direitos”. Paulo Vicente insistiu para não chamar a imprensa. “Falei: ‘Mas a gente vai correr atrás, foi erro de vocês, erro médico'”, conta a vó.

O VERBO ouviu sobre a morte da bebê na casa da família e na hora ligou para Paulo Vicente. Indagado se disse à avó que o médico não existia, Paulo Vicente falou: “Eu não falei isso, não”. Com ligação em viva-voz, Josiene retrucou sem titubear: “Falou”. “Ele mesmo falou para a gente [que o médico não existiria], a gente não sabia de nada [sobre o médico]. Tenho testemunha”, disse a vó. Uma vizinha que presenciou a conversa confirmou que o assessor falou.

Também diante da família, a reportagem contatou o secretário Raul Bueno (Saúde). Ele afirmou que o médico existe, mas não soube dizer a nacionalidade e hesitou sobre se era pediatra. “Se ela entrou pela porta [comum, não de emergência], deve ter sido um pediatra. Preciso consultar, ele é médico da OS [organização AMG], não conhecemos todos os médicos. Sei que ele existe, porque recebi o prontuário com assinatura com carimbo do CRM dele”, disse.

O VERBO disse que o secretário não tinha dados básicos de um médico que atendera uma criança que morreu no PS. “Tudo bem”, disse Raul. “Tudo bem, não, a mãe e a avó estão indignadas”, disse a reportagem. “Já falei para a avó que se houve culpa de alguém será punido. Agora, não podemos falar nada sem haver tecnicamente uma análise”, disse. No fim da noite, ele enviou um certificado do médico de curso de especialização em pediatria clínica de 420 horas.

A família quer a punição dos responsáveis. “Ela já estava de lábio roxo, roxo. Mas [o médico] falou que não precisava pôr no soro, atendeu rapidinho, em cinco minutos, deu atestado para ela ficar dois dias sem ir para creche – atestado de trabalho ainda – e a liberou”, diz Rayane. “Ela estava fraquinha porque vomitou muito. Se a gente fosse médico não ia no PS, medicava em casa. Mas como o médico manda dar ‘refri’ e ainda debocha de sua cara?”, protesta Josiene.

“Se pusesse ela no soro, não vinha a óbito. Fizesse exame para saber o que ela tinha. Não fez nada. A revolta é essa. Como foi negligência médica, a gente está na luta por justiça, para não acontecer com outras crianças”, diz Josiene. Ela rejeitou o “apoio” de Ney. “Nada que ele falou ou vai falar vai me convencer [de que tomou providência]”, afirma. Indagado pela reportagem sobre “esse absurdo de morte” sob negligência na sua gestão, Ney não disse uma palavra.

comentários

  • Isso é um descaso total perdi meu filho de um ano tb nesse lixo de hospital tem 11 anos do acontecido

  • Meus sentimentos a família, ultimamente o PS do Embu está uma vergonha , dias atrás fui ao PS leva minha irmã e o médico que atendeu , me perguntou se eu confiava nele , eu respondi que sim afinal o médico era ele , e ele me voltou com a seguinte , resposta nem eu confio em mim pq vc confia , está realmente complicado esses médico do PS

  • É o tipo de médicos que a gestora Maria Serrano, quer para Embu, com apoio do secretário e outros…coitado doa população que precisa da saúde.

  • Estou junto com a família isso foi negligência médica mesmo como pode mandar pra casa uma criança de 1 ano e três meses que passou a noite todinha vomitando sem se quer fazer um isame e colocar no soro pra poder hidratar a bebê e ainda acima de tudo mandar dar refrigerante absurdo muito grande com nossas crianças

  • Por isso que esse governo e outros nunca fará nada pela saúde das pessoas covardia de um médico matar uma criança indefesa isso abre brecha para que outros médicos com essas atitudes maldosa possam matar e nao socorrer pessoas e crianças! Esse governo do Ney Santos só tem bandidos da pior espécie isso porque não foi ninguém da família deles!

  • O medico ja era quando manda da refrigerante para uma crianca segundo se a crianca esta vomitando no minimo era colocar no soro e fazer exames esses medicos trata o ser humano que nem cachorro meu sentimento a familia quando uma mae chora todas choramos

  • Vá em frente, corra atrás da verdade, estamos cansados dessa falta de respeito a todos crianças ,jovens idosos e todos mais, foi pura negligência, aí tem rolo atrás.

  • Um absurdo o q anda acontecendo com negligências médicas, TB compram diploma, dá nisso, enquanto a população não se conscientizar de q tem q fazer justiça, com as próprias mãos, o país não vai ter jeito, infelizmente, os ladrões dos políticos, só roubam e quer q o povo, se lasque, tenho dito

  • Instruam está mãe a formalizar denuncia no ministério público, ao SUS, ao conselho de saude, a abrir BO e ir na mídia sim chega de impunidade ja não é a primeira criança que morre por negligência este ano, tem aquela de 11 anos que ja enviaram morta pro hospital geral pra se isentarem como vi em materia

  • Que absurdo, é um descaso com as pessoas, meu esposo levou meu sogro idoso 81, nesse ps Embu, com falta de ar, tosse e falou p médica que ele tinha problemas cardíacos a médica, disse que o pulmão estava limpo, não pediu nenhum exame e pediu p retornar em 3 dias, ele estava fraco e sem se alimentar, ela passou loratadina, segunda feira ele voltou, diagnóstico pneumonia! Olha o padrão dos médicos!

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