Ney distribui ‘jornal fake’ para opor Geraldo a Rosângela, mas polícia apreende

Especial para o VERBO ONLINE

Policiais abordam em Embu kombi da Aragon com jornal apócrifo com 'ataque' a Geraldo Cruz e exaltação a Rosângela Santos, ambos do PT | Gabriel Binho/Verbo

GABRIEL BINHO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes e Itapecerica da Serra
RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em São Paulo

A Polícia Civil localizou na tarde desta segunda-feira (9) panfleto apócrifo em forma de jornal com textos “negativos” ao pré-candidato a prefeito de Embu das Artes Geraldo Cruz (PT) e o imóvel onde estava guardado o material. O clandestino “Diário de Embu” – sem autoria e registro – estava onde mora Alberto Luiz, comissionado da gestão Ney Santos (Republicanos). Entregadores disseram que o dono da empresa contratada sabia que o material “era do Ney”.

A kombi da Aragon Distribuidora de Panfletos usada para entrega do “jornal” nas casas e os exemplares foram apreendidos, levados para a Delegacia de Itapecerica da Serra. Policiais do Dise (delegacia especializada) abordaram o veículo na estrada Constantinopla, no Jardim independência, em Embu. Questionado, o motorista levou os policiais até a residência. “Eu retirei o material aqui”, disse o condutor. No local, a polícia foi atendida pelos pais de Alberto.

Policiais civis do Garra batem em casa de Alberto Luiz, o Beto, após motorista da kombi da Aragon indicar onde pegou panfleto apócrifo | Gabriel Binho/Verbo
Alberto Luiz, o Beto, servidor da Secretaria de Comunicação do governo Ney Santos, na época em que atuou na campanha de candidatos de Ney | Reprodução
Entregador da Aragon deixa jornal em casa em Embu; mapas do município para orientar entrega; documento com nome ‘Ney Santos’ | Gabriel Binho/Verbo

“É filho”, disse o senhor que atendeu ao portão, ao ser indagado sobre Alberto Luiz. Diante do pedido da polícia para passar os dados do rapaz, o pai disse: “O senhor vai na prefeitura. Eu não posso dar”, falou. O policial indagou por que não. “O senhor vai lá, que ele trabalha lá, o senhor conversa com ele”, disse o homem. O policial disse precisar só do nome completo e do RG do rapaz. “Eu sei. Alberto Luiz, ele trabalha lá na prefeitura, pode anotar”, concordou.

Conforme apurou o VERBO na prefeitura, Alberto Luiz, conhecido como Beto, é comissionado na Secretaria de Comunicação, na área de TI (tecnologia da informação). Na pré-campanha dos candidatos a deputado lançados pelo prefeito, no ano passado, Alberto aparece – “adesivado” no peito com material eleitoral de Ely Santos (Republicanos), irmã de Ney, e Hugo Prado (PSB) – em foto ao lado do secretário-chefe de gabinete de Ney, pastor Marco Roberto.

O VERBO acompanhou a abordagem e a ida da polícia até a casa de Beto. Ouvido por este portal, o dono da Aragon, Wilson Rodrigues da Silva, negou ter sido contratado e alegou que os três carros da firma na rua estavam no interior, em Bragança Paulista. Porém, a kombi caracterizada da firma estava em Embu, os entregadores disseram que “ele sabia que era [material] do Ney” e o motorista disse que foi “designado pela empresa para fazer a distribuição”.

“Na presente data o declarante [motorista da Aragon] foi designado pela empresa para fazer distribuição de diversos folhetos na cidade de Embu das Artes-SP, no bairro Parque Pirajussara. Que o declarante apenas retirou o material em uma residência na cidade de Embu das Artes-SP (estrada de Constantinopla […], Santa Tereza, Embu das Artes), e que juntamente com equipe contratada pela empresa, cerca de sete pessoas, passaram a distribuir o folheto”, diz BO.

“[…] O declarante retirou quarenta e dois mil panfletos, chegou a distribuir cerca de dez mil e o restante permanece no interior do veículo kombi, placas JIG 6674-SP, que encontra-se em nome da mãe do patrão do declarante”, continua o registro policial – o veículo foi apreendido por estar com o licenciamento vencido. Dentro da kombi foram encontrados também mapas – de Embu – de distribuição grampeado a um documento com o nome “Ney Santos”.

O elo entre o prefeito e a distribuição é evidenciado ainda pela existência de um empenho no valor de R$ 15 mil emitido pela prefeitura para a Aragon. Na nota está registrada a contratação de um “serviço de distribuição de jornal” orçado para 100 mil unidades – tiragem expressa na capa da publicação. O panfleto traz textos “negativos” sobre Geraldo e positivos sobre Rosângela – os que estão na capa são reproduções na íntegra de reportagens do VERBO.

O panfleto começou a ser entregue nas casas no sábado, feriado de 7 de Setembro, e chamou atenção justamente por “atacar” Geraldo e exaltar a correligionária Rosângela. Ambos disputam a indicação do PT para concorrer pelo partido à prefeitura de Embu contra Ney, que busca a reeleição. O “jornal” foi considerado uma arma política de Ney para criar uma guerra entre os dois potenciais candidatos do PT às eleições municipais e desestabilizar os rivais.

A distribuição do panfleto começou um dia antes das eleições internas do PT (PED – processo de eleições diretas), realizadas em todo país para escolha das direções municipais, estaduais e nacionais. A data de início das entregas pode ter sido escolhida por ser a véspera do PED, para acirrar os ânimos internamente. Rosângela, como não foi ela nem a equipe que fizeram o material, registrou boletim de ocorrência com pedido de apreensão dos exemplares.

Rosângela divulgou informe com denúncia do “material apócrifo”. “Essa tentativa criminosa tem o objetivo de nos dividir e criar um clima de hostilidade interno e esse tipo de estratégia suja só interessa a pessoas que estão fora do Partido dos Trabalhadores”, disse. Ela pediu para não repassar. “Não podemos contribuir com algo originado em um crime e fortalecer a estratégia de divisão que existe por trás disso”, completou. Procurado, Ney não se pronunciou.

comentários

>