Gestão Ney faz compras superfaturadas; concorrentes de licitação têm telefone igual

Especial para o VERBO ONLINE

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
GABRIEL BINHO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O governo Ney Santos (PRB) realizou a compra de parafuso ou reparo ao preço de R$ 2 mil cada – fez a aquisição de dois e gastou R$ 4 mil -, de caixa de satélite por R$ 2 mil – adquiriu duas (R$ 4 mil) -, e de coroa e pinhão pelo valor unitário de R$ 4 mil, conforme autorizações de fornecimento que emitiu, obtidas pelo VERBO. Uma simples consulta aos itens no mercado evidencia superfaturamento de preços até astronômico, além de fornecedores suspeitos.

Prefeito Ney
Ney (PRB) e compra de ‘parafuso’ para berço de caminhão por R$ 2 mil cada, denunciada de ser superfaturada
Compras
Reparo (‘parafuso’) para berço comprado, segundo a denúncia, e modelo de berço; casa no endereço da BMW
Cotações
Orçamentos de BMW, que ganhou licitação, e Patrolink com telefone igual; mesmo erro de grafia nas 3 firmas
Caminhão
Compras de coroa e pinhão (R$ 4 mil) e satélite (R$ 2 mil) para o Ford F11000 de placa BPZ 5687 já sucateado

A gestão Ney fez as compras das peças automotivas em abril e maio de 2018, para veículos da Secretaria de Serviços Urbanos, na gestão do secretário Léo Novais. A autorização de fornecimento (AF) 502/2018 diz “parafuso do diferencial original – especificação: berço do diferencial”, quantidade de duas, valor de R$ 2 mil, total de R$ 4 mil. A justificativa apresentada para a compra é a “manutenção do veículo caminhão placa CPV-4142” – um Ford 11000, ano 1990.

A reportagem cotou o “parafuso” em mais de um comércio em São Paulo. O valor informado destoa completamente do pago pela prefeitura. Um estabelecimento orçou que a peça custa R$ 1,88 e a abraçadeira (de aço), R$ 30,50, total de R$ 34,26. “Custa em torno de R$ 15”, disse outro fornecedor, que explicou que a peça se chama mancal e é um reparo do berço, vai dentro de uma espécie de caixeta no eixo do veículo. Pelo valor mais caro, o sobrepreço chega a 5.800%.

O governo Ney também comprou uma caixa de satélite por R$ 2 mil, conforme a AF 520/2018. A reportagem achou a peça, completa, entre R$ 1.600 e R$ 1.700. Já a AF 519/2018 aponta a compra de coroa e pinhão por R$ 4 mil. Um fornecedor consultado informou que “o valor varia de R$ 1.500 a R$ 3.000 conforme o modelo”. Outro comércio orçou por R$ 1.200. Ambas as peças são para outro Ford 11000. Detalhe: o caminhão, sem cabine, parece mais sucata.

A gestão Ney comprou os três itens, entre muitos outros, de uma única empresa, identificada nas AFs como Samara Cristo – ME. “Nesse período, houve superfaturamento no valor das peças. [Sobre a caixa de satélite e a coroa e pinhão] É uma compra de peças com valores abusivos para um caminhão de placa BPZ 5687, que está parado desde outubro de 2016. Usaram a placa para comprar peças dessa mesma empresa”, diz o morador João Paixão, que faz a denúncia.

Sobre o “parafuso”, o vereador Edvânio Mendes (PT) denunciou a compra superfaturada na sessão na quarta-feira passada (12). “Recebi uma denúncia de que a prefeitura pagou R$ 2 mil num parafuso, isso na Secretaria de Serviços Urbanos. Eu tenho a autorização de fornecimento, solicitando dois parafusos, R$ 4 mil. Isso é uma denúncia grave, vou averiguar. Pedimos informação, o prefeito não passa, então vou no Ministério Público. Isso é um absurdo”, disse.

Procurado pelo VERBO, o prefeito alegou que a reportagem “mais uma vez vai ser induzida a erro e publicar mais uma mentira”. Cobrado a explicar, Ney mandou o secretário Paulo Bittencourt (Licitações) contatar este site. Bittencourt disse que “fizemos o reparo em dois berços do diferencial que também têm parafusos”. Ele alegou que “o sistema de compras da prefeitura não tem nenhum código com essa denominação”, por isso constou apenas “parafuso” na AF.

“Na AF constou parafuso na primeira descrição e abaixo descrevemos como reparo do berço. Não foi adquirido nenhum parafuso com o valor noticiado”, disse Bittencourt. Diante do pedido para que enviasse uma foto da compra, ele disse, porém, que “o reparo foi dentro do diferencial, acredito que não consigo te mandar”. Depois, disse não se tratar de peça. “Contratamos serviço de recuperação do berço do diferencial, portanto não compramos peça”, alegou.

A reportagem questionou também sobre a compra de coroa e pinhão, para qual veículo se destinava, quais empresas participaram da licitação e que preços deram. “Fazemos aquisição de aproximadamente 5 mil itens por ano. Seja mais preciso”, disse Bittencourt. Depois, disse que o critério foi “menor preço”, mas que estava “levantando o processo”. Mas não respondeu mais, não falou as empresas, os preços nem o caminhão – justamente o de placa BPZ 5687, inutilizado.

Em relação ao “parafuso” ou, segundo o secretário, ao “reparo do berço”, Bittencourt enviou os “três orçamentos que constam no processo de compras” e frisou que “o menor orçamento foi o da empresa Samara Cristo – ME com o nome fantasia de BMW Tratores”, disse – fornecedora, aliás, de todos os itens das três AFs. O endereço da BMW, em Jundiaí (SP), porém, é uma residência. Após o contato com a prefeitura, os dados cadastrais teriam sido tirados da internet.

O VERBO ligou para a BMW e para as duas supostas concorrentes – Ivan Branciforti ME, em Campinas (SP), e Patrolink Tratores, em Valinhos (SP). Todos os números deram como inexistentes. Curiosamente, a BMW tem o mesmo telefone da Patrolink, nos orçamentos, indício de concorrência maquiada. “Essa empresa é de Jundiaí e trazia três orçamentos prontos de empresas dela mesmo”, denuncia Paixão. As cotações das três são idênticas até em erro de concordância.

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