Secretário-adjunto de Ney acusou GCMs inocentados pela Justiça ao fechar bar

Especial para o VERBO ONLINE

Secretário-adjunto de Segurança, Albertino Coelho, que disse que comandados pediram para ser presos, mas os GCMs nem foram denunciados à Justiça | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O secretário-adjunto de Segurança do governo Ney Santos (Republicanos), Albertino Coelho, acusou os guardas municipais que fecharam um bar por funcionamento ilegal e foram detidos por abuso de autoridade, em fevereiro. A confusão começou com a interferência do vereador Luiz do Depósito (MDB). Albertino chegou a dizer que os guardas pediram para ser presos. Mas os GCMs nem foram denunciados e foram considerados inocentes pela Justiça.

Os GCMs Adriano Lourenço e Abner Cassoli chegaram ao bar para cumprir lei de horário de funcionamento à 1h30 – o estabelecimento devia fechar às 23h. Dono do imóvel, Luiz do Depósito alegou que os GCMs estavam “arredios” e que Cassoli apontou uma arma de choque para o rosto dele. Acionado, o inspetor Itamar Lourenço, superior da equipe, falou a Adriano que a situação era apenas de notificação e desestimulou a registrar o caso na polícia.

O GCM justificou, porém, que Luiz do Depósito “torceu” o braço do colega e que devia fazer BO de desacato, e já estava cansado de “baixar a cabeça” para vereador. Mas na delegacia o delegado plantonista Valdir Rosa alegou que os GCMs abusaram da autoridade, “ameaçaram, empurraram e conduziram as partes, contra suas vontades”, à delegacia. Os GCMs receberam voz de prisão em flagrante e tiveram recolhidos armas, munições, algemas e coletes.

Rosa fez constar no BO o crime de “abuso de autoridade” e condicionou a soltura a pagamento de fiança de R$ 1.045. Os GCMs se negaram a pagar por rejeitarem que se excederam e aguardaram audiência de custódia. Ao contrário do BO, Luiz do Depósito foi à delegacia por meios próprios, não foi conduzido pelos GCMs, e o relato de que Cassoli apontou arma de choque para Luiz teria sido “incrementado”. Os GCMs foram soltos, mas afastados do serviço.

À época, no mesmo dia do fato, o secretário-adjunto gravou um áudio em um grupo da Guarda em que recriminou os GCMs, em vez de preservar os comandados e aguardar apuração mais ampla – o VERBO teve acesso à mensagem de voz. Alberto usou o termo “raio” – o curso que os guardas civis fazem para ser membros da Romu (grupo de elite da GCM) se chama “Patamo”, cujo símbolo é um raio, como passam a se autointitular os que têm o treinamento.

Falando errado, Alberto se refere ao bar como sendo de Luiz do Depósito. “Pessoal, boa tarde aos ‘raio’ aí, vou me manifestar no grupo aí, porque aqui eu também sou ‘raio’, todo mundo é ‘raio’. Senhores, vamos lá, ‘foi’ dois guardas nossos aqui, porém, os caras ‘pediu’ para o delegado prender eles, ‘tá’ bom? Eles encostaram numa ocorrência num bar, na lanchonete aí que é de um vereador, o vereador chegou, eles chegaram, né, meio alterados”, disse o adjunto.

“O vereador foi conversar com eles, eles não queriam saber, o vereador se identificou, ‘meu, sou vereador’, [eles] ‘não quero saber, pode ser quem for’. Então, saíram em vias de fato lá, o vereador também está errado, os guardas também estavam errados. Porém, chegou o inspetor, a guarnição virou para o inspetor de plantão, perguntou ‘o que você está fazendo aqui, pode embora’. Entendeu? Todos os dois alterados. ‘Foi’ conduzido para o DP”, continuou.

“O delegado chamou os guardas, chamou o vereador. O vereador falou ‘tudo bem, sou do governo, só vi que os caras estavam meio alterados, vamos deixar no ‘zero a zero’. E os guardas ‘irredutível’: não, não’, falou um monte para o vereador. O delegado conversou, [eles] ‘começou’ a dar risada na cara do delegado. O delegado falou: ‘ah é, tá bom’. Chamou mais testemunhas que estavam na lanchonete e meteu abuso de autoridade em cima dos guardas”, falou.

“Mandamos dois advogados lá, eles falaram que não queriam, que tinham condições de pagar advogado. Então, estavam ‘irredutível’, eles pediram para ser presos. O delegado arbitrou uma fiança de mil reais para os mesmos não irem para audiência de custódia, eles ‘falou’ que não, que queriam ir para a audiência. Chegou na audiência, o juiz liberou. Mas na minha humilde opinião… Jamais vou contra ‘polícia’ meu, mas esses dois aí ‘pediu'”, acusou Albertino.

Contudo, o juiz Rodrigo de Godoy considerou os GCMs inocentes, ao acompanhar manifestação do Ministério Público sobre o episódio. “O arquivamento se impõe. […] Como bem assinalado pelo Nobre Magistrado em sede de audiência de custódia, os envolvidos teriam se dirigido à Delegacia voluntariamente […], cenário que afasta a figura típica prevista no artigo 10 da Lei nº 13.869/2019 [abuso de autoridade]”, escreveu a promotora Alice Monteiro.

“Nos termos da manifestação […] da representante do Ministério Público, DETERMINO O ARQUIVAMENTO dos presentes autos [crime de abuso de autoridade]. […] Quanto a medida cautelar, consistente no afastamento dos averiguados de suas funções, aplicada em audiência de custódia […], revogo-as. Oficie-se à Guarda Municipal de Embu das Artes. Oportunamente, arquivem-se os autos”, julgou Godoy, em decisão datada de 30 de abril.

À reportagem, o GCM Adriano lamentou a posição de Albertino, que só soube por colegas – ele não está no mesmo grupo no WhasApp. “[A fala dele] é uma forma de coagir a tropa, dizendo que a nossa conduta estava errada. Mas não só ele acha isso, ele fala, externa isso. Muitos dos meus chefes acham o mesmo. Mas não quero comentar se ele está certo ou errado. Iremos ver no processo”, disse, ao se pronunciar ainda antes de ter a decisão judicial favorável.

Apesar de dizer “polícia meu”, Albertino não integra a Guarda de Embu e responde na Justiça por usurpação de função pública, por se passar por membro da GCM, atuado com a farda da corporação – ele era guarda em Taboão da Serra, mas resolveu ser segurança de Ney e teve de pedir demissão. Albertino também é um dos alvos da denúncia de favorecimento no concurso público da GCM – que acabou suspenso por fortes indícios de irregularidade.

OUÇA ÁUDIO EM QUE O SECRETÁRIO-ADJUNTO RECRIMINA GCMS QUE ACABARAM INOCENTADOS PELA JUSTIÇA

> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE


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