Padre da região é preso acusado de abuso sexual; Igreja ‘não escuta sinais’, critica sacerdote

Especial para o VERBO ONLINE

Pe. Anderson Moraes, 43, de paróquia na região de Campo Limpo, que foi preso por estupro de menores; postagem de sacerdote com críticas à Igreja | Reprodução

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em São Paulo

Um sacerdote deu “puxão de orelha” na hierarquia católica na região após mais um membro do clero protagonizar um escândalo sexual na Igreja. No início do mês, na noite de 9 de dezembro, uma segunda-feira, o padre Anderson Moraes Domingues, 43, pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus no Parque Ipê, Diocese de Campo Limpo, foi preso em flagrante, acusado de estuprar um adolescente de 14 anos dentro de um shopping no Guarujá, litoral paulista.

Segundo testemunhas, o padre entrou no shopping com o menino de 14 e outro de 13 e lhes ofereceu lanche em troca de favores sexuais. Eles foram abordados pelo padre no farol, onde vendiam balas. Anderson foi indiciado pelo crime de favorecimento da prostituição ou exploração sexual de vulnerável e teve a prisão convertida em preventiva (prazo indeterminado). Ele foi transferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) em Guarulhos (Grande SP).

A diocese está consternada com o caso. O padre Alfredo da Veiga, porém, não se limitou à lamentação, mas “pôs o dedo na ferida”. Em uma rede social, ele disse que a Igreja Católica local não tem interesse em debater a questão do abuso sexual cometido por seus membros. “Há coisas e acontecimentos que ainda conseguem drenar as minhas forças, e o ocorrido é uma delas. Um padre da minha diocese está preso por estuprar um menor”, disse o sacerdote.

“Organizei dois congressos e dois livros sobre o assunto, mas a maioria do clero não quer saber de falar no assunto. As dioceses não levam o assunto a sério e preferem fingir que o problema não existe”, disparou o pároco da Igreja Santo Antônio no Caxingui (zona oeste de SP). “Me sinto esgotado, lutando sozinho, e meus apelos não são nem considerados. Tentei trazer para nossa diocese uma associação que cuida de vítimas e criada pelo papa, em vão.”

Ele teve apoio. “Concordo com você. Inclusive queria ter participado dos congressos, sei como são enriquecedores, você trata do assunto com muita seriedade e verdade”, disse o padre Miguel Romano. “Não desista! Resista! A [sic] tempos a única coisa a fazer é ser resistência. Quando mexer no bolso [indenizações], teremos até patrocínio para os congressos”, disse o padre Odair Eustáquio, pároco da Igreja Maria Mãe dos Caminhantes em Itapecerica da Serra.

O padre Fausto Oliveira, da São Judas Tadeu no Campo Limpo, disse se sentir como Alfredo. “Me sinto abandonado e colocado à margem por rebater a unilateralidade da preocupação de alguns apenas com as contas! Falta pastoral, humanidade, cuidado do clero! E, pior, até a [sic] pouco o mesmo estava ao lado dos cabeças (e era muito bem quisto). Agora, é jogado, abandonado. A mãe não deve jamais açoitar os erros de seus filhos, mas ela os abandona?”

Apesar das manifestações, nenhum sacerdote em postos de comando da Igreja na região se pronunciou sobre a reflexão de Alfredo. A diocese já se deparou com outros episódios em que padres cometeram abusos a menores. Em 2012, um caso de grande repercussão foi o do padre Anderson Rogério Risseto, que dirigia uma comunidade religiosa na região do Morumbi (zona sul de SP) e foi preso após denúncias de abuso sexual a jovens frequentadores do local.

Para Alfredo, a diocese não se mexe para sanar problemas que envolvem abuso de menores. “A Igreja não escuta os sinais, não vê o que acontece a sua volta, imaginando que não precisa de ninguém. Estamos vivendo tempos de esquizofrenia religiosa. Deus tenha piedade!”, finalizou. Anderson de Moraes, formado em seminários da diocese, foi ordenado em 2007 pelo então bispo dom Emílio Pignoli – o padre fez 12 anos de sacerdócio, no último dia 14, na prisão.

Em nota, a Igreja informou que as medidas eclesiásticas serão tomadas em relação ao padre e que os fatos serão investigados pelas autoridades civis competentes. “A Diocese de Campo Limpo, por meio do seu Bispo Diocesano, comunica que serão tomadas, no âmbito eclesiástico, as medidas cabíveis segundo a legislação Canônica e que repudia qualquer tipo de comportamento em desobediência à legislação Civil, Canônica, à moral e aos bons costumes da sociedade”, expressou.

“A Diocese de Campo Limpo prossegue comprometida em seguir as determinações da Igreja para tais casos, além de estar, através de seus membros, unida em oração pelos que sofrem”, encerrou a hierarquia da Igreja local, segundo o “G1”. No último dia 17, o papa Francisco decretou que o “segredo pontifício” não se aplica mais sobre abusos de menores cometidos por clérigos e que a Igreja deve compartilhar informações dos casos com a polícia e a Justiça civil.

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