Jornalista Alberto Dines, editor do ‘JB’ que driblou a ditadura, é enterrado em Embu

Especial para o VERBO ONLINE

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Um dos mais importantes jornalistas brasileiros, que comandou a Redação do “Jornal do Brasil”, no Rio de Janeiro, com criatividade e ousadia, Alberto Dines foi sepultado em Embu das Artes, no Cemitério Israelita, no Jardim Tomé, na tarde de quarta-feira. Ele morreu na terça-feira (23), em São Paulo, aos 86 anos, devido a problemas respiratórios – estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein havia dez dias por conta de uma gripe que evoluiu para pneumonia.

Alberto Dines em 2012
Dines em 2012; jornalista comandou ‘JB’ com criatividade e ousadia contra ditadura e aperfeiçoou a profissão

Nascido em 19 de fevereiro de 1932, no Rio, Dines iniciou na profissão em 1952, como crítico de cinema, na revista “A Cena Muda”. Depois de passar por outras publicações, apenas dez anos depois, em 1962, já era editor-chefe do “JB”, e por uma década levou o jornal a viver um dos períodos mais inovadores da história que escreveu – a reforma do diário carioca, consolidada sob a direção de Dines, modernizou o jornal e foi modelo para vários outros veículos brasileiros.

Dono de uma vasta biografia, Dines se notabilizou especialmente por duas contribuições marcantes, uma que custou a própria saída do “JB”, por ser crítico ao governo militar. Ele foi demitido em 1973 após driblar a proibição de publicar na primeira página do jornal manchete sobre a morte do presidente chileno Salvador Allende. O “JB” foi às bancas com um texto longo na primeira página, mas sem exibir uma manchete. A capa entrou para a história do jornalismo brasileiro.

Cinco anos antes, no início do “golpe dentro do golpe”, o período mais sangrento da ditadura, Dines coordenou outra edição que se tornou histórica pela coragem. Em 14 de dezembro de 1968, um dia após a promulgação do AI-5, a capa do “JB” trouxe no canto esquerdo superior a seguinte previsão climática: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por ventos fortes. Máx.: 38º, em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras [Rio]”.

Dines também atuou como crítico do próprio fazer jornalismo. Apenas dois anos depois de expurgado do “JB”, em 1975, ao assumir a chefia da “Folha de S. Paulo” no Rio, lançou a coluna “Jornal dos Jornais”, de crítica sistemática aos meios de comunicação no país. “Tinha visto a imprensa, depois da derrubada [do presidente dos EUA] Nixon [no episódio Watergate], criar mecanismos de autocrítica para evitar os excessos, a arrogância de uma imprensa vitoriosa”, disse.

Em 1993, Dines cofundou o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Sempre interessado na vida acadêmica e na qualidade da profissão, criou dois anos depois o Observatório da Imprensa. O portal virou programa de TV em 5 de maio de 1998, veiculado semanalmente – que foi uma espécie de “universidade a distância” a muitos hoje jornalistas. Dines escreveu 15 livros, de ficção a reportagens e biografias. Ele deixa mulher e quatro filhos.

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