Base aliada está dividida e pode não estar unida ao PT em 2016, adverte Doda

Especial para o VERBO ONLINE

Doda Pinheiro (PT) concede entrevista no gabinete da presidência na Câmara no último dia 22; ele avalia que Ney Santos, eleito novo presidente, não é oposição ao governo Chico Brito, mas diz que o considera adversário

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

A base aliada do governo do PT em Embu das Artes está “dividida” e poderá não estar do mesmo lado nas próximas eleições, municipais, a julgar pelo contexto da definição do comando da Câmara para o biênio 2015-2016, avalia Doda Pinheiro (PT), presidente do Legislativo da cidade nestes dois últimos anos e que deixa o posto neste dia 31 de dezembro. “Imagino que nós [governo petista] teremos um desafio muito grande, manter a base aliada unida, haja vista a eleição da mesa como foi”, diz. O cenário é tido como um risco de o partido deixar de governar a cidade após 16 anos.

Doda ataca a escolha de Ney Santos (PSC), adversário na campanha em 2012, como próximo presidente da Câmara, no último dia 20. “O peso é negativo. Tínhamos 13 vereadores da base, e quem foi eleito presidente foi um da oposição. Mostra que estávamos desarticulados, divididos”, diz. Ele acha que outro desfecho só dependia dos governistas, mas diz não poder avaliar se Chico articulou nos bastidores a eleição de Ney. Doda falou ao VERBO ainda sobre embates para implantar medidas na Câmara e a gestão de Chico, em entrevista em três partes, a primeira a seguir:

> LEIA 2ª PARTE DA ENTREVISTA Excesso de projetos em urgência é ruim, diz Doda; gestão valoriza servidor
> LEIA 3ª PARTE DA ENTREVISTA UPA e Praça da Juventude serão entregues; governo merece nota 9, diz Doda

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VERBO ONLINE – O sr. se despede do comando do Legislativo de Embu, que já tem uma nova Mesa-diretora eleita. Que peso teve o prefeito Chico Brito na eleição de Ney Santos como novo presidente da Câmara?
Doda Pinheiro – Digo o seguinte: o peso que ele teve na eleição da nova mesa-diretora não posso avaliar. É uma pergunta que você deve fazer para ele. Posso dizer o peso que tem a eleição do Ney para nós, vereadores.

VERBO ONLINE – Qual seria?
Doda – Para nós, vereadores, o peso é negativo. Tínhamos 13 vereadores da base, e quem foi eleito presidente foi um vereador da oposição. Mostra que estávamos desarticulados, estávamos divididos, e a brecha que damos culminou com a eleição do Ney. A forma como se deu não posso dizer, seria até antiético falar algo. Posso dizer sobre o posicionamento do PT em relação à candidatura dele, que foi de se abster do voto para presidente.

VERBO ONLINE – O que representa a eleição de Ney Santos para o governo Chico?
Doda – Então, eu ainda não consegui fazer essa avaliação. Sinceramente, não consigo fazer hoje.

VERBO ONLINE – [Ele] É oposição?
Doda – Acredito que não. Como é que o governo vai ter oposição da presidência da Câmara com, abre aspas, 13 vereadores na base? Até porque essa eleição da mesa-diretora foi muito acalorada, muito antecipada em relação à eleição municipal de 2016, que ainda está muito longe.

VERBO ONLINE – O sr. está dizendo que a eleição da nova mesa-diretora tem relação com a sucessão municipal de 2016?
Doda – Todas as eleições de mesas-diretoras das cidades vizinhas e de todo o Estado de São Paulo se refletem em 2016, queira ou não.

VERBO ONLINE – Qual o cenário que o sr. imagina para a eleição da mesa ter tido esse desfecho?
Doda – Imagino que nós – no caso, digo nós governo, nós PT, porque o governo é do PT, e agora estou falando como petista – teremos um desafio muito grande, manter a base aliada unida, haja vista a eleição da mesa como foi. Para se ter uma ideia, o PT quase ficou fora da mesa-diretora, da presidência acabou ficando com a primeira-secretaria. Se não tivéssemos antenados com a discussão, nem na mesa o PT ficaria. E aí eu preciso dizer o seguinte: o PT em nível nacional, estadual e municipal precisa se reinventar, porque o que está colocado é que alguns setores da mídia, em geral, estão querendo esfacelar o Partido dos Trabalhadores, essa é a grande verdade, e nós, militância, precisamos nos organizar para que isso não aconteça.

VERBO ONLINE – Presidente, o sr, está colocando uma questão alheia ao PT de Embu, o sr. me desculpe. Quem é apontado como grande mentor da eleição de um adversário do PT para presidente da Câmara é o prefeito Chico Brito. O sr. não entende assim?
Doda – Volto a repetir: essa pergunta o sr. deve fazer ao prefeito Chico Brito, só ele tem como responder, eu não tenho como responder por ele.

VERBO ONLINE – Presidente, o vereador Gilvan [da Saúde (Pros)], que era cotado até a última hora para ser presidente da Câmara, é da base do governo, é o líder do prefeito na Câmara, disse o seguinte: 13 vereadores foram eleitos na coligação aliada, mas nenhum chegou à presidência, parece que todos são incompetentes ou não têm condições, capacidade para ser presidente. Como vê essa posição?
Doda – Particularmente, não concordo. Nós mostramos e provamos por “A mais B” que na minha presidência por dois anos fomos extremamente competentes e conseguimos realizar um bom trabalho. E acredito até que por termos 13 vereadores na base que a mesa-diretora deveria ser formada entre os 13 vereadores da base. Foi formada por três e um que não é da base.

VERBO ONLINE – Que é o presidente.
Doda – É o presidente. Mas como estou falando, essa pergunta não tenho como responder. Se o Chico foi o mentor da candidatura dele ou não? Isso não cabe a mim responder, tem que ser feita ao prefeito.

VERBO ONLINE – Mas como o sr. vê a posição de Chico Brito, que na eleição para mesa-diretora do primeiro biênio, com dois meses de antecedência, reuniu a imprensa e disse que nenhum vereador da oposição iria para a mesa, inclusive no dia 1º de janeiro de 2013 moveu todo o aparato da prefeitura para impedir que Ney Santos fosse o presidente. Agora, o prefeito tem uma posição oposta ou de favorecer a eleição dele. O sr. pode fazer uma avaliação da postura de interferir diretamente e agora ser passivo vendo um adversário do PT e que diz que vai para o PSDB assumir o principal posto do Legislativo?
Doda – Posso até analisar e dar uma resposta em outro momento quando eu digerir todas essas informações, até porque algumas para mim são novas. Por exemplo, que o Ney vai para o PSDB. Se vai para o PSDB, vai perder o mandato, é enquadrado na lei da infidelidade partidária. Será que ele sabe disso? Deve saber. Se ele perde o mandato, tem que ter eleição para presidente de novo. Se ele vai para o PSDB, o que eu posso dizer para ele é boa sorte, vai ser nosso adversário, como é hoje.

VERBO ONLINE – O vereador Carlinhos [do Embu (PSC)] disse, também na eleição da mesa-diretora, que os vereadores ditos de oposição podem e votam nos vereadores do PT, só os do PT não podem votar nos da oposição. O que acha da queixa?
Doda – O vereador Carlinhos precisa refrescar um pouco a memória. Chumbo trocado não dói. Na minha eleição para presidente, ele e o Ney se abstiveram. Qual o problema de nós nos abstermos agora também? Nenhum. É um direito democrático, o voto pertence ao vereador.

VERBO ONLINE – Mas como o sr. vê a decisão do PT de se abster diante da iminente eleição de um declarado adversário do partido na cidade?
Doda – A posição que o PT tomou de se abster em votar na eleição de Ney foi uma posição partidária, foi tirada no diretório, aprovada na Executiva. Eu não poderia ser contra o meu partido, a orientação veio do meu partido, vou seguir.

VERBO ONLINE – Mas a [aprovação à] orientação não foi unânime. O grupo do prefeito Chico Brito, o principal líder, foi o voto vencedor, mas havia um grupo no diretório que era contra a posição de se abster. Foi uma decisão acertada?
Doda – Se foi acertada ou não, só o tempo vai dizer. Agora, quanto à questão de ter o grupo do prefeito [que pensava de um jeito] e outro que pensava diferente, esse tipo de pensamento, falando francamente enquanto militante agora, tem que acabar, se ficarmos com essa ideia de que o grupo de um ou de outro dentro do mesmo partido, o PT não se fortalece, só se enfraquece. Está na hora de o PT de Embu das Artes colocar as barbas de molho, repensar algumas atitudes e tomar uma decisão coletiva enquanto Partido dos Trabalhadores, não pode tomar uma decisão individual, senão daqui a pouco não sabemos nem quem é quem dentro do próprio partido.

VERBO ONLINE – O PT hoje é reflexo do racha político entre Chico Brito e Geraldo Cruz?
Doda – Não. Sofremos algumas sequelas, mas ainda não é reflexo. O PT é maior que o Chico, é maior que o Geraldo.

VERBO ONLINE – Presidente, há uma avaliação de que Ney Santos é um político que tem trabalho a mostrar, mas que a assessoria não estaria à altura dele e ainda mais agora que é o novo presidente da Câmara. Concorda?
Doda – Não sei de onde vem essa avaliação, é o primeiro ponto que quero colocar. A única coisa que posso dizer é que na função de presidente da Câmara a pessoa tem que servir aos 14 gabinetes, tem que servir a toda a cidade, seja segmento de empresário, social, esportivo. E servir dá trabalho, dá muito trabalho, particularmente se não tiver uma assessoria antenada com aquilo que está deliberando, terá dificuldades. E, claro, todo parlamentar que se preza deve sempre buscar aperfeiçoar sua assessoria, precisa ter pessoas responsáveis ao seu lado, qualificadas, politizadas, articuladas. Mas isso se resolve com bastante reuniões, formação, conversas. Que tem dificuldades com a assessoria, ele sabe, ele mesmo já disse, haja vista que em diversas reuniões, sessões da Câmara, a assessoria dele tomava posicionamento que não era o que ele queria que fizesse, várias vezes ele mesmo controlava o pessoal dele durante a sessão. Para um parlamentar fazer isso é ruim – pedir para uma pessoa ficar quieta, não vaiar, não gritar, não esbravejar. O espaço do parlamento, da grade para dentro, só quem pode ficar são os vereadores e a assessoria nomeada.  Algumas vezes, pessoas ligadas ao Ney acabaram entrando ali, ou seja, não há o respeito de espaço. Ele vai ter que tomar bastante cuidado com isso, vai estar na presidência, e qualquer deslize que acontecer vai ter 14 vereadores olhando, e para chamar atenção quando for necessário. Mas acredito que isso é passível de mudança, de acerto, cabe a ele avaliar, não sou eu que vou dizer como deve fazer, ele deve saber.

VERBO ONLINE – Como deverá ser o segundo biênio da Câmara com Ney e demais vereadores da mesa na presidência?
Doda – Não tenho como dizer agora como vai ser…

VERBO ONLINE – Qual sua expectativa?
Doda – …não sei como vai ser o posicionamento da Câmara. Tem uma expectativa colocada, porque teremos três vereadores na mesa que são explosivos, digo até os nomes, no caso, Ney, Rosana [do Arthur, vice-presidente] e Edvânio [Mendes, primeiro-secretário]. Mas estarão numa posição diferente, têm que manter a postura, têm que coordenar os outros vereadores, coordenar o plenário, ficar muito atento ao que vem de projetos do Executivo e do próprio Legislativo para que não inverta a ordem dos trabalhos, precisando de ajuda, uma vez que o único vereador que permaneceu na mesa é o Jefferson [do Caminhão (PR)], que, não desmerecendo o vereador, participou muito pouco das funções da mesa-diretora, quem mais participava eram o presidente e o primeiro-secretário. Mas acredito que também está preparado para ajudá-lo. Vamos ter que aguardar para ver como vai ser a condução dos trabalhos, acredito que será boa, até porque a decisão não passa somente pela mesa-diretora, passa pelos 15 vereadores, e temos que continuar nos reunindo e discutindo as mudanças da cidade e do Legislativo, conjuntamente. Se fizer de maneira isolada, vai ter dificuldades.

VERBO ONLINE – Na Câmara, em plenário, qual será a postura do sr, agora não mais como presidente?
Doda – Eu me julgo um vereador muito atuante e muito crítico também. Gosto de falar, discutir, debater as ideias. As pessoas devem ter a consciência de que, em relação à minha pessoa, têm que me convencer no campo das ideias, sendo assim tocamos o mandato sem nenhum problema. Não aceito imposição em nenhuma situação, de nenhum lado. Tenho uma postura muito crítica quanto a isso. Vou procurar conduzir o meu mandato, voltar o meu mandato totalmente para a rua, é o que eu mais gosto de fazer, voltar meu mandato para os segmentos sociais, visitar bastante as obras da cidade, as unidades de saúde, de educação, esporte, ver também a dificuldade que o povo está tendo nesses serviços para propor mudanças aqui no Legislativo e no Executivo, essa é a minha ideia. Fazer a política como sempre fiz, respeitando todo mundo, porém procurando meu espaço.

VERBO ONLINE – Diferente em relação à atuação do sr. neste biênio?
Doda – Não digo diferente, é que na função de presidente você fica com o tempo reduzido, não pode falar algumas coisas que pensa.

VERBO ONLINE – Por quê?
Doda – Porque você vai bater de frente com um vereador, e a sessão vira uma discussão, e não é interessante. O presidente tem que ser o primeiro a colocar panos quentes quando uma discussão acalorada está se instalando na Casa, as pessoas acabam vendo como um desrespeito entre os parlamentares – [falam] “Se nem eles se entendem, imagina o povo”.  Eu procurei fazer esse papel, para evitar polêmicas, até mesmo quando era chamado para um debate, quando era insultado, às vezes a gente tinha que, sabiamente, ficar quieto. Para mim, a palavra vale prata, mas o silêncio vale ouro.

VERBO ONLINE – O sr. terá uma postura diferente, é isso?
Doda – Depende da posição, depende da discussão. Em alguns momentos, vou continuar
agindo dessa maneira, escutando mais e falando menos. Em outros, talvez, escutar menos e falar mais. Depende muito de como será a condução dos trabalhos neste biênio.

VERBO ONLINE – O sr. diria que falará mais?
Doda – Digo que falei bastante das questões administrativas, de colocar os projetos para discussão, em votação, passar a palavra para os vereadores, controlar o tempo…

VERBO ONLINE – Me refiro a discussão sobre projetos, pontos controversos que mereceriam uma posição crítica de sua parte.
Doda – Mas mesmo nos pontos controversos eu não consegui fazer tanto, estar na presidência desgasta muito, tem que estar antenado com diversas questões. Agora vou estar só voltado ao meu mandato, não vou estar pensando na presidência, no vereador que quer falar, não vou estar preocupado com as pessoas que chegam à sessão e já dão um toque, dizendo que querem falar com você depois da sessão… É muita coisa para administrar. Agora, particularmente, vou estar com a cabeça totalmente voltada para o meu mandato, para a política da cidade, isso até me dá a condição de ter um tempo maior e melhor para discutir mais ainda os projetos da cidade como um todo.

VERBO ONLINE – O sr. diz que faz avaliação de que realizou uma boa gestão à frente da Câmara e também tem visão positiva sobre o seu mandato, diz ser um vereador atuante. Por que o sr. foi preterido, desprestigiado pelo Executivo como candidato à reeleição à presidência da Câmara?
Doda – Não digo que fui preterido nem desprestigiado. Eu já tinha colocado no início de 2013 que dificilmente eu seria presidente novamente, nessa legislatura – não sei numa outra, nem sei se vou ser candidato a vereador, não sei, só o tempo vai dizer. Com o trabalho que realizei ao longo destes dois anos, eu teria total condição e competência para permanecer, agora isso não cabia só a mim, cabia aos vereadores. Se o grupo de vereadores quisesse que eu permanecesse, teria se posicionado a favor. Quando não há um posicionamento favorável, você não vai a campo pedir votos, já percebe como o jogo está colocado. E a candidatura que estava sendo preferida, e não preterida, e prestigiada dentro do arco de alianças era a do Gilvan e da Rosana. Quando se colocou essa situação na mesa, da candidatura de um dos dois, fui o primeiro a dizer: não há problema nenhum, faço parte de um coletivo, somos 13 vereadores [da base], se o grupo estava acenando para isso, estávamos juntos. [Mas] Vou ajudar da forma que puder para que [a mesa-diretora eleita] faça uma boa gestão, assim como fizemos. Mas não me sinto preterido nem desprestigiado.

VERBO ONLINE – Por ter uma postura de independência e ser muito crítico, como disse, o sr. enfrentou algum dissabor com o prefeito Chico?
Doda – Dissabor encontramos diariamente na política, seja de prefeito, de empresário, do munícipe, do parlamentar aqui dentro, seja de funcionário. Acontece e acontecerá sempre. E é bom que aconteça, não fosse assim a gente não aprenderia, não cresceria, não teria oportunidade de repensar algumas ideias.

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