Fernando não disse que acabaria com praça, me sinto traído, afirma Paulo Félix

Especial para o VERBO ONLINE

Paulo Félix em reunião do Conisud na Câmara de Embu das Artes sobre alça de retorno na BR-116
Paulo Félix em reunião do Conisud na Câmara de Embu das Artes sobre alça de retorno na BR-116
Ex-vereador Paulo Félix em reunião do Conisud na Câmara de Embu das Artes sobre alça de retorno na BR-116

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE

Aliado de Fernando Fernandes a partir de 1998 – após perder a eleição como vice-prefeito dois anos antes, ficar sem mandato e se deixar atrair, a ponto de ir para o PSDB depois de integrar o PT –, afastado do tucano nos últimos quatro anos, quando aderiu ao governo Evilásio Farias (PSB), mas que em 2012 fez campanha na mesma coligação de partidos que desde janeiro governam a cidade, Paulo Félix (PMDB) não está mais, porém, do mesmo lado, com uma praça no meio. No caso, a Luiz Gonzaga, no Pirajuçara, onde o hoje prefeito quer instalar o Poupatempo e o Bom Prato.

“O primeiro ato de insanidade partiu da decisão solitária, sem consultar a população, sem uma audiência pública, de colocar os equipamentos numa praça tão utilizada pelo povo”, diz Félix ao se referir a afirmação de Fernando de que a oposição ao projeto era política e insana. Ele diz, porém, que está em rota de colisão com o prefeito não só por causa da praça, mas por questões prometidas e não faladas na campanha. “Apoiei um programa de governo, e me sinto traído, como milhares de pessoas que votaram em Fernando Fernandes.” A assessoria do prefeito não comentou.

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VERBO Online – Há a informação de que a Justiça de Taboão da Serra indeferiu pedido de liminar contra a obra do Poupatempo na praça Luiz Gonzaga. Como o sr. recebe a decisão?

Paulo Félix – Decisão judicial não se discute, se cumpre. Mas vamos entrar novamente com uma ação com novos argumentos a favor da manutenção da praça Luiz Gonzaga, estamos preparando nova peça jurídica e devemos ingressar nos próximos dias com pedido de reconsideração da decisão da Justiça. Entendemos que a praça é um patrimônio do povo, um espaço de lazer e cultura da região do vale do Pirajuçara. E tem outros locais para se construir o Poupatempo e o restaurante Bom Prato, não nos opomos a essas obras, mas vamos lutar até o fim para que a praça permaneça com o status que tem hoje.

VERBO – Imagino que isso já tenha sido objeto da peça que foi apresentada. Quais seriam os argumentos para um novo pedido de liminar?

Félix – Acabamos de receber novas informações a respeito do andamento da obra lá. Não posso adiantar, porque pode prejudicar inclusive a apresentação da nova peça que vamos oferecer ao Judiciário. Tenho certeza de que as informações que temos agora podem causar uma reviravolta nas decisões da Justiça em relação a liminares.

VERBO – O prefeito Fernando Fernandes diz que a objeção à obra do Poupatempo na praça Luiz Gonzaga é política e insana…

Félix – O ato de construir o Poupatempo na praça Luiz Gonzaga me parece mais insano e político de que qualquer coisa. O Poupatempo é um equipamento regional, que tem que favorecer Embu, Itapecerica [da Serra], o entorno de Taboão, Campo Limpo, Butantã. A nosso ver, um prefeito que é estrategista, que pensa como um estadista, teria que construir no centro, às margens da BR-116, temos áreas para isso. O primeiro ato de insanidade partiu da decisão solitária, sem consultar a população, sem uma audiência pública, sem ouvir ninguém, de colocar esses equipamentos numa praça tão utilizada pelo povo.

VERBO – O sr. participou da campanha em 2012 no mesmo grupo do então candidato Fernando Fernandes, apoiava a sua mulher como candidata a vereadora. Mas, neste ano, o sr. chegou a bater boca em público com o prefeito, na própria praça, em que teria exigido espaço na administração, [o comando de] uma secretaria. O sr. não teria sido atendido, o que o prefeito diz ser uma das razões para que se oponha ao Poupatempo na praça…

Félix – Isso é uma pequenez política, não se faz política baseado em espaço e cargos. Tenho 26 anos de vida pública, eu apoiei um programa de governo. Lá no programa de governo não estava dito que [o prefeito] ia acabar com a praça Luiz Gonzaga. Lá não estava dito que ia acabar com a ciclovia. Lá não estava dito que ia contratar parentes e fazer nepotismo. Lá não estava dito que traria a ‘legião estrangeira’, gente de fora para governar a cidade. Uma das questões colocadas [pelo grupo] era governar com gente de Taboão, e não importar quadros. Todas essas questões me levaram ao afastamento político dessa administração. Cargo? Passou o tempo de discutir isso, hoje estamos discutindo ideias e política. De maneira alguma, hoje eu aceitaria um cargo para participar desse governo. Não é isso que eu defendi, que eu levei para os meus eleitores. Fernando foi a uma reunião conosco que tinha 1.200 pessoas e em nenhum momento falou isso. Apoiei ideias, apoiei um programa de governo, e me sinto traído, como milhares de pessoas que votaram em Fernando Fernandes se sentem traídas pelas políticas que não foram aplicadas na nossa cidade. Ao MST, o movimento de moradia, Fernando Fernandes assumiu inúmeros compromissos, não comigo, assumiu com o movimento. Nenhuma delas foi cumprida até o momento.

VERBO – Por exemplo.

Félix – A discussão de construção de mais moradias populares nas áreas de Zeis [de interesse social], socorrer as pessoas que estão mais necessitadas de auxílio-aluguel, que moram em área de risco, em áreas insalubres, estão despejadas… Todas essas questões foram discutidas na reunião com Fernando Fernandes. Nenhuma delas até agora foi cumprida ou sinalizada [para resolver] inclusive. Fernando foi convidado para todas as assembleias do MST. Ele disse que ia no MST reafirmar os compromissos na primeira assembleia, de janeiro. Nunca apareceu, apesar de convidado. E demonstra que não é só conosco na hora que proíbe skatistas [na praça], que acaba com a ciclovia, que toma essas atitudes. Isso é tudo contra o que lutei na vida. Então, não é uma questão de cargos. Fernando passe bem com seus cargos, faça deles o juízo que quiser, a nossa luta agora é outra.

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