Pessoas com deficiência fazem missa ‘pioneira’ e celebram inclusão em Taboão

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Dois cegos tocam violão, um – garoto de 9 anos – tira melodia do teclado, uma jovem com Down também dedilha um violão e outra com a síndrome canta. Um cego, através da escrita em braille, um com dificuldade de andar e uma surda, na língua de sinais, fazem leituras. Um coral de cegos canta afinado. Pessoas com limitações celebraram, elas próprias, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência na Paróquia São João Batista em Taboão da Serra no último dia 4.

Evani Calado, atleta de Taboão ouro nas Paralimpíadas do Rio, participa da missa das pessoas com deficiência
Evani Calado, atleta de Taboão ouro nas Paralimpíadas do Rio, participa da missa das pessoas com deficiência

Com a igreja na região do Pirajuçara cheia, os grandes protagonistas da missa também entraram pela nave central com símbolos que representavam a vivência e conquistas dos indivíduos com limitações. Abriu a procissão uma convidada especial, a atleta Evani Calado, ouro na bocha adaptada nas Paraolimpíadas do Rio 2016, em setembro, que ofertou a Deus a medalha e um troféu ganhos, em demonstração de luta e superação das pessoas com deficiência no esporte.

Em seguida, o escritor Carlos Eduardo Viviani, de cadeira de rodas, levou ao altar livro da escrita braille e uma bengala, instrumentos que abrem os caminhos aos cegos. Sobre a deficiência intelectual, a jovem Jéssica ofertou o recado “Nós podemos” e um coração, a expressar o quanto o ser humano pode amar quando foca o sentimento, e não a deficiência. A jovem Bete de Souza, cadeirante, apresentou desenho das mãos, símbolo da expressão e comunicação dos surdos.

“O mundo novo [de amor e paz que Jesus inaugurou], estamos sentindo um pouco aqui hoje, com tantas pessoas sem enxergar lendo, sem audição ouvindo, através de gestos. Deus está no meio de nós, agindo”, disse o padre Kieran Ridge, que abriu espaço no sermão à deficiente visual Roseli Behaker. “Não é porque pessoas têm síndromes intensas que precisam ser nada, podem ser muito mais. Temos de parar de ver só a aparência, e olhar a essência”, disse Roseli.

Ao final da missa, o coral da escola Ciadeva (Centro de Integração e Apoio ao Deficiente Visual e Auditivo), de Taboão da Serra, cantou duas músicas. A segunda foi encenada, por jovens com deficiência intelectual do Gape (Grupo de Apoio à Pessoa Especial), da paróquia. Na celebração marcada pela alegria desde o início pela participação ativa das pessoas com deficiência, os fiéis explodiram em palmas – muitos chegaram às lágrimas -, emocionados com a apresentação.

A Paróquia São João Batista é pioneira em realizar uma missa celebrada pelas próprias pessoas com deficiência. “3 de dezembro é o Dia Internacional da Luta da Pessoa com Deficiência, é para eles uma data muito importante. Tivemos a ideia da celebração, algo totalmente novo. Geralmente se é feita, é para eles assistirem. Neste caso, não, a missa é para eles e deles, sem contar a acessibilidade, cadernos de braille, audiodescrição, libras”, disse Angela Pinheiro, do Gape.

Coral do Ciadeva canta e jovem do Gape encena; no telão, 'contrário de eficiência é ineficiência, não deficiência'
Coral do Ciadeva canta e jovem do Gape encena; telão – ‘contrário de eficiência é ineficiência, não deficiência’

É o quarto ano em que o Gape idealiza a celebração. “A ideia é fazer com que os demais sintam um pouco o que eles passam todos os dias. É um momento de reflexão para todos nós, de nos colocarmos no lugar do outro, é mostrar para a sociedade que todos somos capazes, independente da nossa limitação. Ser uma pessoa com deficiência não a torna incapaz, e a celebração deixa claro isso, que eles podem tudo, até mesmo conduzir uma missa”, destacou Angela.

Para o professor Josafá da Costa, dos alunos do Ciadeva – deficiente visual como ele -, a missa “foi muito gratificante”. “Todo tipo de deficiente estava unido, inclusão é isso, nos unirmos cada vez mais, um ajudar o outro”, disse Josafá, 54. A paratleta Evani achou “tudo maravilhoso”. “Eu vi ali que não tem diferença, cada um entende a palavra de Deus, tanto surdos, mudos, cegos. Tem acessibilidade para cadeirante. Ali tem igualdade mesmo”, ressaltou Evani, 27, ao VERBO.

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