ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O vereador Ney Santos (PSC), presidente da Câmara de Embu das Artes, reclamou do teor da notificação de que estava cassado e atacou o juiz eleitoral Gustavo Sauaia na sessão nesta quarta-feira (2). Ele fez um calculado discurso sem se exaltar ao se dirigir a uma autoridade do Judiciário, mas desafiou Sauaia a disputar uma eleição para passar a interferir no Legislativo e disse ainda que ele é um magistrado não para “fazer injustiça” e “continuar fazendo coisas erradas”.
Ney disse estar impressionado com “a interferência dos poderes na nossa cidade” e que “promotor e juiz sempre estão interferindo no nosso trabalho”, para relatar que chegou à Câmara, no dia anterior, comunicado do juiz de que teve o diploma cassado. “Até aí tudo bem, é o trabalho dele, tem que fazer. Mas o que mais me chamou atenção foi o jeito que escreveu no ofício. […] Olha a palavra que ele usou: ‘Retire-se da Câmara Municipal e de suas funções’”, contou.
“Que educação é essa de um poder tratar outro poder? Queria que ele saísse candidato e ganhasse a eleição para ver qual é o nosso trabalho no dia a dia, quantas pessoas e sonhos representamos. Não estou aqui para ficar debatendo, muito menos falando mal de juiz, mas é uma tremenda falta de respeito que o Judiciário tem conosco. Já denunciei esse cidadão duas vezes no CNJ [Conselho de Justiça]. Já falei com advogado. Se tiver que denunciar, vou novamente”, disse.
Ney disse que o juiz tem “que se colocar no lugar dele”. “Fazer que a justiça aconteça, não fazer injustiça. Ele está lá [Judiciário] para consertar as falhas, não continuar fazendo coisas erradas. Nessa sentença que deu três anos atrás, ele foi a um site de notícias debater com quem me apoiava. Por aí, a gente consegue entender a postura deste juiz”, disse. Ney foi cassado pela primeira vez em 2013 por Sauaia, na Justiça de Embu, e retornou seis meses depois ao Legislativo.
Ele disse abordar o assunto “com muita tranquilidade”. “Quem não deve não teme. Se devesse, estava escondido debaixo da cama. Por isso, estou tendo essa moral de usar esse canal de diálogo para pedir ao excelentíssimo juiz Dr. Gustavo Sauaia que respeite o Poder Legislativo. São três poderes diferenciados, mas tem que ter harmonia para o crescimento do município”, disse. Cabos eleitorais e assessores do vereador vibraram quando criticou o magistrado.
Horas depois de a notificação ser feita, Ney teve deferidos embargos de declaração e obteve a suspensão da cassação, para ficar no cargo até o julgamento da medida, sem data prevista. “A vitória política nós tivemos ontem, por mais que não tenhamos ainda uma vitória jurídica [definitiva]. Muitas pessoas estavam já soltando fogos, pensando que hoje não estaria aqui na Câmara. A má notícia para os que torcem contra é que vão ter que me aguentar mais um pouco”, falou.
Ney foi cassado no dia 23 por “captação ilícita de sufrágio” ao se beneficiar de atendimento médico e estético de uma ONG em 2012, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), que confirmou a sentença em primeira instância de Sauaia. Ele disse ter “condição e orgulho de apoiar este trabalho há mais de dez anos”. “Mas, infelizmente, houve uma denúncia, as pessoas que me denunciaram estão dizendo que estou usando a ONG para angariar votos”, lembrou.
“Infelizmente, a Justiça falhou e nos condenou. Quando a gente começa a incomodar por fazer diferente daqueles que querem se perpetuar no poder, começam a nos atrapalhar. [Mas] Eu tenho certeza que vou terminar meu mandato”, afirmou. Na sentença que proferiu, porém, Sauaia diz que Ney já foi julgado “por fatos ocorridos na eleição de 2010, os quais também envolvem captação de sufrágio” e que em 2012 “as provas que o implicam estão longe de ser duvidosas”.
