‘Perdi muita coisa’ fora do PSDB, diz Wilson após chamar tucanos de ‘bostas’

Especial para o VERBO ONLINE

O ex-petista Wilson Antonio, que entrou no PSDB apesar de fazer pesadas críticas ao partido até um mês antes

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Após 34 anos como militante do PT, do qual foi um dos fundadores em Taboão da Serra, Wilson Antonio, 53, diz que “perdi muita coisa” por não ter estado no PSDB antes. O ex-“Wilson do PT” se filiou ao partido do prefeito Fernando Fernandes, arquirrival do PT, em outubro do ano passado – junto com o ex-vereador Macário, que estava no partido apenas um terço do tempo do aliado (12 anos). “Ah, eu tô entusiasmado, tô me sentindo extremamente valorizado no PSDB, vou percebendo que perdi muita coisa. Agora, vou fazer o desgaste do PT, o embate político. Sinto muito”, diz.

Wilson faz elogios efusivos a Fernando, que será reeleito e levará o PSDB a eleger “quatro ou cinco vereadores”, diz. Ele “flertou”, porém, com a incoerência a cada resposta – parece ter se tornado pragmático em vista das eleições e continuar petista a ponto de incensar José Dirceu e João Paulo Cunha, condenados pela Justiça por desvios de recursos públicos. O mais impressionante é que um mês antes de se filiar ainda postava no Facebook ataques pesados ao PSDB, chamava os tucanos de “bostas”. “Fazia as críticas enquanto militante do PT”, tenta justificar, na “Entrevista da Semana”.

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VERBO ONLINE – Por que o sr. se filiou ao partido do prefeito Fernando Fernandes, o PSDB?
Wilson Antonio – Por estratégia. Estamos próximos de uma eleição municipal [agora] em 2016, e analisando a conjuntura municipal a gente tem que reconhecer que Fernando é um bom estrategista, está montando um time de candidatos que, sem dúvida nenhuma, vai ganhar o campeonato.

VERBO – Ou seja…
Wilson – Vai ganhar as eleições. Fernando vai se reeleger e fazer a maior bancada na Câmara. Analisando com o Macário, hoje a gente vive não digo o fim da ideologia, mas é um momento em que o Partido dos Trabalhadores, no qual eu militei por 34 anos, praticamente esgotou a sua capacidade de renovação política. Houve até um período, há pouco tempo atrás, em que se falava na refundação do PT, mas acabou acontecendo nada! O PT tem lá sua teoria política, está no poder [na esfera federal], mas o que a gente percebe é que a teoria e a prática são totalmente opostas. Na política econômica, sobre questões que dizem respeito à maioria da população, infelizmente a [presidente] Dilma [Rousseff] toma atitudes que não condizem com os princípios e o programa do Partido dos Trabalhadores.

VERBO – Por exemplo?
Wilson – A recessão, que afeta milhões de trabalhadores. Temos visto nos últimos meses que praticamente 1 milhão de trabalhadores perderam o emprego devido a essa política adotada pelo governo federal que é extremamente recessiva e prejudicial à maioria da população, que leva à perda de emprego, perda do poder aquisitivo, e a qualidade de vida se deteriora.

VERBO – Por que, exatamente, o sr. deixou o PT?
Wilson – Além dos erros do PT nacional, o PT em Taboão da Serra prima pelo infantilismo político muito grande. O PT na cidade tem cometido erros estratégicos que inviabilizam o partido para as próximas eleições. O que a gente tem visto é um grupo de companheiros que tem as mais boas intenções, mas não se abre ao diálogo com outras forças políticas e também não faz uma autocrítica dos erros cometidos. É um partido controlado basicamente por três lideranças, mas não tem uma estratégia eleitoral adequada, não se discute estratégia eleitoral e não avança, por exemplo, na inserção [crescimento] em Taboão da Serra. O PT carece de grandes lideranças aqui, as lideranças mais recentes – falo dos meus companheiros Wagner [Eckstein], Moreira, professora Márcia, além do Irineu [Casemiro], que é o coordenador da macrorregião [do PT] – não são figuras em que a maioria da população tem confiança.

VERBO – Como o sr. define o atual presidente do PT de Taboão, Wagner, e, talvez, o líder do partido de maior influência na região, Irineu?
Wilson – Wagner é uma boa pessoa, um bom companheiro, mas falta [a ele] capacidade de liderança, percebo isso. Como vereador, fez um mandato que deixou a desejar, para a militância foi só mais um mandato, não avançou na construção do partido. O Irineu, para mim, é decepcionante. Falo como militante, mas que tem autocrítica. O PT em Taboão passou por uma crise há pouco tempo, em que saímos do governo – fomos derrotados [nas eleições em 2012] -, e o Irineu, enquanto presidente [coordenador] da macro, não articulou [não buscou] na região espaço, mesmo o partido tendo as prefeituras de Embu das Artes, de Osasco, de São Paulo, de Carapicuíba, para manter essas lideranças em evidência política, fazendo militância e com boas propostas. Nesse ponto, ele é muito fraco. Não é a atuação de uma pessoa que abre pontes no sentido de buscar alternativas, só pensa na questão eleitoral, que é fundamental também, [mas] o PT só vive disso, só vive de eleições em eleições. Precisa buscar aquilo que perdemos lá atrás, que era o projeto de construir o partido, de trazer novas lideranças, de ser competitivo nas eleições, buscar alternativas. O PT perdeu esse foco.

VERBO – O PT é um partido democrático e popular, como diz? Em Taboão há uma crítica de que o PT é um grupo de tendências em que não prevalece uma discussão objetiva sobre as grandes questões da cidade, mas a luta interna de tentar convencer os militantes na base da interferência ou influência de lideranças de fora, notadamente, deputados, inclusive em relação à definição dos candidatos do partido. É fato?
Wilson – Achei que você não ia fazer essa pergunta, mas fez, ainda bem. O PT em Taboão sofre de algo, que também tenho que reconhecer [como tendo feito parte], que é debater mais as questões nacionais do que as questões locais. É um erro do partido, porque fica a reboque das intenções nacionais do partido e da influência política de deputados. Eu vou falar claramente com você, eu pertencia a um grupo político que era o do [ex-deputado condenado no mensalão] João Paulo Cunha. Mas havia uma efervescência, uma discussão política enorme – éramos da tendência Construindo um Novo Brasil. Às vezes na política você tem que ter um lado, mesmo estando em um partido como o PT, de várias correntes. Eu sou marxista-leninista-trotskista. Você se aglutina com os companheiros que pensam da mesma forma que você para disputar espaços dentro do partido. Os grandes partidos hoje, o PMDB, PSDB, não têm tendências, mas têm grupos. No PMDB há o grupo do [Eduardo] Cunha [presidente da Câmara], há o do [Michel] Temer [vice-presidente]. O PSDB tem o grupo do Alckmin [governador Geraldo Alckmin], o do Aécio [senador Aécio Neves]. São as figuras nacionais do partido. O PT também tem isso. Agora, o PT em Taboão em processo eleitoral tem uma influência de deputados que vêm para cá, fazem a cooptação de uma ou duas lideranças, e aí não se unifica, não se tem uma estratégia eleitoral de apostar em um determinado companheiro, que a gente sabe que não vai ganhar, mas que se viabilize e se torne uma grande liderança, seja reconhecido na cidade para futuramente conquistar espaço. Não tem isso, esse apoia um deputado, aquele apoia outro, aí fica essa loucura que é a disputa eleitoral em Taboão. Há vários deputados paraquedistas que depois nem aparecem na cidade, fazem campanha aqui, vêm um dia ou dois, aglutinam um grupinho para fazer campanha e depois desaparecem, não voltam mais, a verdade é essa.

VERBO – Pode citar um?
Wilson – Posso. Deixa eu ver… Ah, Zarattini [deputado federal Carlos Zarattini]. Para mim, é uma figura que mal vem a Taboão da Serra. Agora, me pergunta qual a dotação orçamentária que ele destinou para a cidade? Não conheço. Ele tem uma relação política com o PMDB de Itapecerica da Serra, mas em Taboão não tem. E tem outras figuras – que não me recordo agora -, deputados, que sequer aparecem na cidade. Têm seus representantes locais aqui, mas fazer uma plenária, discutir recursos para uma cidade como Taboão da Serra, que não tem um orçamento gigantesco e precisa de ajuda, não tem, não aparecem. O PT não cria [lideranças com potencial eleitoral] e não dá possibilidade de investir num projeto futuro.

Com o pré-candidato que apoiará, Macário (à dir.), Wilson mostra ficha de filiação ao PSDB ao lado de Fernando

VERBO – Wilson, como o sr. se define ideologicamente?
Wilson – Sempre me defini como um cara de esquerda, por acreditar que a esquerda lutava por justiça social, igualdade e solidariedade – lutar contra a desigualdade social, contra o monopólio da riqueza. Hoje, eu me defino mais como um social-democrata. O posicionamento que tomo hoje é fruto de uma análise política e histórica de que a esquerda tem fragilidade na sua concepção de Estado. O Estado hoje não deve ser extremamente gigantesco, tem que diminuir, o Estado tem que ter função de educar, de dar saúde, de manter as riquezas nacionais sob seu monopólio, sua soberania, e principalmente garantir as liberdades individuais. Nesse ponto, vamos falar que eu possa ser um social liberal hoje.

VERBO – O social liberal defende o Estado mínimo. Concorda com essa concepção?
Wilson – Concordo. O PT sempre falou na reforma do Estado, e o que o PT fez? Não fez.

VERBO – Não ter feito não quer dizer que errou [ao se opor ao Estado mínimo].
Wilson – Errou. O Estado hoje não garante certas condições para a população, pode ver a crise que estamos vivendo hoje. Nesse sentido, tem que rever as ideias. Eu sou um cara revolucionário, sempre fui a minha vida inteira, eu não me apego a dogmas, ficar fixo numa ideia é ser um conservador. Penso que o Estado brasileiro é muito grande, a população está percebendo isso agora e está desacreditando no Estado que está aí. Ele não está cumprindo a sua função essencial, está emperrando a sociedade de avançar tanto socialmente como politicamente.

VERBO – Como o sr. define ideologicamente o PSDB?
Wilson – Olha, estou estudando muito o PSDB, peguei o programa partidário, o programa de governo. É interessante que, lá trás, sempre fui um dos defensores da aliança do PT com o PSDB, sendo o PT um partido de esquerda, ligado aos sindicatos, e o PSDB, feito de figuras que defendem a social democracia, como a europeia. A fusão entre PT e PSDB seria a salvação do país, faria com que o Brasil avançasse 10, 20 anos. Infelizmente, por briga pelo poder, tanto PT como PSDB não são aliados, são adversários. Mas se pegar os programas de ambos, tem muita coisa em comum. Acho que o PSDB continua tendo sua matriz como de centro, não é de direita como muitos falam por aí. De centro, mas mais voltado para o social, para a eficiência do capitalismo, dos projetos sociais. Eu me considero mais próximo dessa linha de pensamento. Não se pode esquecer – e os companheiros esquecem – que o PT apoiou o PSDB lá atrás, o PT apoiou Fernando Henrique Cardoso.

VERBO – Apoiou quando?
Wilson – No Senado! Lá no começo [entre fim dos anos 70 e início dos 80], quando houve as eleições, depois das Diretas. No governo Itamar Franco [1993-94] tentou-se uma aproximação com o PT. Quando Fernando Henrique era presidente é que acabou não dando certo… Às vezes, o poder mais atrapalha que ajuda. É preciso hoje enxergar a realidade do Brasil, de que temos que avançar muito ainda. Para isso, precisamos unir as pessoas de bem, bem intencionadas, os grandes quadros que temos. Há pouco tempo eu li um texto do Oded Grajew, que é um grande empresário, em que ele fala que PT e PSDB deveriam pegar o Lula e o Fernando Henrique e botar entre quatro paredes, fechar a chave e esquecer, deixar os dois se entenderem para o bem do Brasil. Essa briga pelo poder está levando ao que estamos vivendo hoje, a instabilidade política. Temos bons quadros tanto no PT quanto no PSDB.

Ao lado de Macário e do prefeito Fernando, Wilson faz primeira aparição pública como tucano após filiação

VERBO – O PSDB é um PT melhorado?
Wilson – Acho que é. Eu sempre admirei o Covas [governador Mário Covas (1930-2001), o Montoro [governador Franco Montoro (1916-1999)]. Antes eu não enxergava, mas o Alckmin é uma boa pessoa, não é uma pessoa má, né? Há pouco tempo atrás o pessoal questionou o Alckmin, mas falei: “Peraí, o Alckmin não está tentando se aproximar do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra]? Não foi contra a questão [da redução] da maioridade penal? O que é que há?” Às vezes, questões pontuais atrapalham o raciocínio político.

VERBO – O Alckmin foi contra a redução da maioridade penal?
Wilson – Foi contra a redução da maioridade penal. [E] Ele esteve recentemente em um evento em que estava o Stédile [João Pedro Stédile, líder do MST], todos nós conhecemos quem é Stédile, é uma figura de esquerda.

VERBO – Wilson, o sr. não teme ser chamado de incoerente?…
Wilson – Em nenhum momento. Nem de traidor também. Não faz parte da minha vida ser incoerente. Estou hoje num projeto, junto com o Macário, somos um grupo. Penso a política em relação ao país, mas penso hoje muito mais na questão local. Para mim, a questão local é primordial, nossa cidade precisa de bons políticos, pessoas de bem, precisa se desenvolver. Nossa cidade melhorou muito, houve progresso, mas ainda está muito longe do que almejamos, queremos uma cidade com 100% de qualidade de vida. Temos muito a fazer, precisamos melhorar a qualidade política da Câmara Municipal, debater as questões locais, não picuinhas, isso não leva a nada. Debater sobre o desenvolvimento da cidade, a questão social, a educação, que é muito boa em Taboão, mas precisa melhorar mais. Debater o transporte, que é fundamental, mas ainda é muito precário.

VERBO – Mas o governo Fernando Fernandes já tem três anos e, por exemplo, não implantou o bilhete único, para melhorar o transporte, baratear, que foi promessa de campanha.
Wilson – Deixa eu te falar… Não é só a prefeitura que tem que discutir o bilhete único, mas em conjunto com o governo do Estado, né? Isso o Fernando está… Está sempre buscando parcerias em São Paulo.

VERBO – Mas o Estado é governado pelo PSDB.
Wilson – Mas, às vezes, demora. Entre ter um projeto e concretizar demora muito, não é fácil também.

VERBO – Fernando vai cumprir essa promessa [do bilhete único], que ele fez para este mandato de quatro anos?
Wilson – Veja, a transposição do rio São Francisco, que era para ser inaugurada agora [em 2015], não foi, provavelmente [será] em 2017. São projetos demorados para caramba, né? Mas eu creio que no segundo mandato do Fernando, com certeza, vai implantar o bilhete único na cidade.

VERBO – Então, Fernando não vai cumprir a promessa neste mandato.
Wilson – Ele está trabalhando nesse sentido, de tentar cumprir a promessa. Ele vai fazer o máximo para cumprir. Eu sempre acredito nas boas intenções das pessoas.

VERBO – Wilson, olhando a sua página no Facebook, até o começo de outubro, o sr. fazia críticas duras, pesadas contra o PSDB, chamava os membros do PSDB de “bostas” e dizia que estavam envolvidos no “trensalão”, o escândalo de corrupção no metrô, dizia que o Aécio foi um mau gestor à frente do governo de Minas. O sr. mudou seu posicionamento da noite para o dia em relação ao PSDB?
Wilson – [pausa] Olha… A minha desilusão com o PT é muito maior do que as críticas que eu faço ao PSDB. Eu fazia as críticas enquanto militante político, correto? Hoje eu estou no PSDB, sou um soldado do PSDB. Como tal, tenho que ter como prioridade a disputa política, a guerra que vai ser travada. Enxergar o adversário como às vezes a gente enxerga, de forma carinhosa, não ajuda. Eu fazia a disputa política, isso qualquer militante faz.

No fim de 2014, Wilson (esq.) em ato com Padilha pró-eleição de Dilma e sorridente ao lado de Lula em Taboão

VERBO – Não tinha nada de ideologia, o sr. fazia críticas ao PSDB apenas por fazer parte de um partido adversário…?
Wilson – …Que era oposição e adversário do PSDB. Fazia a disputa política dentro de um espaço de hoje que é a internet, as redes sociais. É como um casamento, você está 35 anos com a mesma mulher, mas de repente acontece algo e você perde a esperança, se desilude. O que aconteceu comigo foi a mesma coisa, né? Se o PT tivesse corrigido seu rumo, eu não estaria hoje no PSDB, com certeza. Eu sou um cara do povo, moro na periferia, e o povo fala hoje que o PT traiu o trabalhador. Eu me sinto traído pelo PT. Então, a questão ideológica, para mim, morreu. Sinto muito, faço aqui a minha mea-culpa. Eu errei, a questão ideológica para mim não tem prioridade nenhuma, a prioridade para mim é que Taboão precisa avançar, por isso estou no projeto do PSDB. O Fernando é uma liderança que conheço há 25 anos, desde quando eu era garoto, líder estudantil.

VERBO – O sr. o conhecia de dialogar com ele?
Wilson – Sim. Sempre tivemos respeito um pelo outro, em todos os momentos da minha vida – pode perguntar para o Fernando – sempre tive o maior respeito [por ele], a minha briga era ideológica. Com o PSDB. Como militante do PT, fazia o desgaste do adversário, político, nunca pessoal. Hoje, reconhecendo que eu errei, que a ideologia para mim hoje não é prioridade, reconheço que há avanços, tenho que reconhecer que o homem foi prefeito duas vezes desta cidade, se reelegeu, a esposa dele é uma excelente deputada, com quatro mandatos já. O grupo do Fernando tem hegemonia na cidade, não é verdade? E faço parte deste grupo, pensando o futuro da cidade e qual a melhor opção política para a cidade. Com certeza, é o PSDB.

VERBO – O sr. mudou completamente de ideia, de um mês para o outro, em relação às principais figuras do PSDB? O sr. fazia críticas duras a Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Alckmin, Aécio…
Wilson – Mudei…

VERBO – O sr. mudou de ideia também sobre as figuras do PT que elogiava, como José Dirceu, que está preso, e João Paulo Cunha?
Wilson – Não… Pode falar o que for do João Paulo Cunha, mas a gente reconhece a falta que ele faz. Pode falar o que for do José Dirceu, está lá, condenado, infelizmente, se enriqueceu, mas é uma figura que pensa o país, é extremamente inteligente.

VERBO – Os membros do PSDB dizem que ele é um corrupto, que foi condenado pela Justiça e preso.
Wilson – [pausa] Aí quem vai determinar… Eu não vou mais fazer a autocrítica como eu fazia, porque eu conheço [Dirceu e João Paulo]. Quando você conhece a pessoa muda em relação à crítica que fazia. [Em relação ao PSDB] Quando eu criticava o Aécio, critica a postura ideológica do Aécio. Quando eu criticava o Fernando Henrique, criticava a política econômica do governo, não fazia crítica pessoal.

VERBO – Lógico, estamos falando de política, não da vida pessoal de ninguém…
Wilson – Mas eu quero falar sobre essas duas figuras que você citou, o Zé Dirceu e o João Paulo Cunha. Eu conheço os dois pessoalmente, tenho livros autografados pelo Zé Dirceu, o conheço desde a inauguração [fundação] do PT. Se ele errou, cabe à Justiça [julgar].

VERBO – O sr. vai fazer a defesa, fazer elogios dentro do PSDB a José Dirceu e João Paulo Cunha?
Wilson – Do João Paulo Cunha, pretendo. Aliás, ele é admirado até pelo PSDB.

VERBO – Quem admira?
Wilson – A própria Analice reconhece a figura do João Paulo. A [deputada federal] Bruna Furlan [PSDB, de Barueri]…

VERBO – Reconhece como?
Wilson – Como bom tribuno [debatedor], sabe?…. Como uma pessoa que debate as questões nacionais, que ajudou Osasco. Isso é inegável. Eu defendo quem conheço.

VERBO – Dentro do PSDB, o sr. também vai dizer que o ex-presidente Lula é o “cara”, que foi o maior presidente da história deste país, como está lá no seu Facebook?
Wilson – [pausa] Olha, eu não sou o tipo de pessoa que se filia a um partido e não obedece às orientações partidárias, me desculpe. Eu tenho o maior carinho pelo Lula, eu o conheço desde a época em que ele era sindicalista. Tem o seu carisma, sua liderança, mas se o PSDB determinar a candidatura do Alckmin ou de outra figura do PSDB [para presidente], vou defender a candidatura do PSDB, se estou no grupo. Eu sou leal.

VERBO – O ex-presidente Lula é o “cara”?
Wilson – Foi o cara. O Lula errou quando botou uma tecnocrata [Dilma Rousseff] no poder central. Errou quando botou um burguezinho, um filhinho de papai [Fernando Haddad] para assumir a prefeitura de São Paulo. Mesmo as grandes lideranças erram. Agora, não podemos tapar os olhos. Eu já fazia a minha crítica dentro do partido em relação a Dilma e Haddad. Mantenho a minha coerência. Só que agora não estou mais no PT, posso falar abertamente.

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VERBO – Quando o sr. deixou de ver Lula como “o cara”?
Wilson – No segundo mandato de Dilma e com o desastre que é a administração Haddad.

VERBO – No mais tardar, início de 2015, então?
Wilson – Isso.

VERBO – Mas até setembro o sr. continuou postando elogios efusivos ao PT e a Lula.
Wilson – [Eu] Estava no PT!

VERBO – Mas o que o sr. diria para as pessoas que procurou convencer de que o PT era o grande partido do Brasil, que fez as transformações sociais pela primeira vez na história deste país? No Facebook, o sr. conversa com uma jornalista da região, dizendo que o PT representava o sonho de um governo democrático e popular. O que o sr. diria para essa pessoa?
Wilson – Você acabou de falar: representava, não representa mais. Por que acha que o PT perdeu quase 15% de representação, em relação a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores? Está uma debandada, você vai ver até março a debandada que vai ser. A verdade é a seguinte: o PT traiu os compromissos históricos, é preciso reconhecer. Quando se é um militante, é por uma causa. Quando a causa tem um efeito nefasto, devastador para a maioria da população, [você pensa]: “Peraí, não vou defender essa causa mais, acham que sou idiota para defender uma causa indefensável? Não dá”. E vamos ser sinceros também, um partido que foi um dos maiores beneficiários de vultosas somas de recursos de empreiteiras, de banqueiros, realmente não é mais um partido como na sua fundação, um partido histórico, dos trabalhadores, autônomo.

VERBO – O sr. foi para um partido que foi um dos que mais receberam grandes somas de recursos desses mesmos grupos.
Wilson – É um partido que faz parte do sistema político [do país]. Mas o PSDB não surgiu do movimento sindical, não surgiu do movimento por moradia. O PSDB surgiu de uma junção de empresários que pensavam o país, social-democratas liberais, cristãos que queriam outro modelo de país. Para mim, sinceramente, os partidos deveriam viver única e exclusivamente ou do fundo partidário ou [da contribuição financeira] da sua militância, e ganhar a [eleição na] cidade através do debate de ideias.

VERBO – Que papel o sr. terá no PSDB. Será candidato a vereador?
Wilson – Serei militante, participarei das reuniões do PSDB, debaterei as questões locais. Serei um soldado. Não pretendo me candidatar a nada, até porque nunca me empolguei em relação à campanha política. Gosto de organizar a campanha, sou uma espécie de estrategista. Meu candidato chama-se Macário, uma liderança da comunidade, um cara que tem o pé no chão, é povão, mora numa região extremamente carente que precisa avançar nas melhorias. Eu adoro fazer política, vou fazer política até os meus 90 anos de idade. Mas não com os olhos da ideologia, isso para mim acabou. O PT acabou com essa história de ideologia no Brasil.

VERBO – Com que sentimento o sr. deixou o PT? É um dos fundadores do partido em Taboão.
Wilson – Olha, frustrado, infelizmente. Saí extremamente magoado, o PT foi por um caminho que não era aquilo que a gente sonhava lá atrás.

VERBO – Militantes do PT dizem que a ida do sr. e do Macário para o PSDB foi em troca de dinheiro. O presidente Wagner Eckstein diz que foi oportunismo eleitoreiro.
Wilson – Nada a ver. Esse é o jogo político que o Wagner vai tentar fazer, até porque ele sabe que o PT não se sustenta sozinho na campanha. Do jeito que está correndo a coisa, o PT corre o risco de não eleger nenhum vereador. E lá na frente, a gente vai ver isso, vamos ver quem é que vai ficar no partido. Não foi oportunismo, a gente já estava descontente com o PT há um certo tempo. O que acontece é que estamos pensando nas eleições municipais [agora] em 2016, e todos que são políticos pensam nisso. E o partido mais forte na cidade é o PSDB, que tem condições de reeleger o prefeito e eleger a maioria na Câmara.

VERBO – Quantos vereadores o PSDB deverá eleger?
Wilson – Vai fazer quatro ou cinco vereadores em Taboão da Serra, pode anotar.

VERBO – E com que sentimento o sr. ingressa no PSDB?
Wilson – Ah, eu tô entusiasmado! Lembra que eu falei que o militante político precisa de oxigênio, de motivação? Eu estou extremamente motivado. Eu conversei com [a deputada] Analice e saí de lá empolgadíssimo.

VERBO – Quando foi a conversa?
Wilson – Há um tempo atrás…

VERBO – Antes da filiação?
Wilson – Antes da filiação… Não, depois da filiação. Eu fui lá na Assembleia [Legislativa], nos encontramos e conversei com ela. E fiquei extremamente empolgado. Eu até falei para a Analice: “Pena que eu não te conheci há 25 anos atrás, sabia?” É uma figura extraordinária.

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VERBO – O sr. ficou empolgado com o quê?
Wilson – Empolgado, sabe, com a forma carinhosa como fui recebido. Na conversa havia uma sintonia ali, em relação ao futuro do país, a Taboão da Serra. Isso que empolga a gente, pensar na cidade, eu moro aqui há desde quando vim para cá, há mais de 30 anos. A gente quer o melhor para a cidade, não é verdade? A gente quer ter uma Câmara com ótimos debatedores, quer ter um bom prefeito que mora e conhece os problemas da cidade, quer ter uma representação política na região que trate a cidade com carinho, com respeito, que brigue por Taboão e região. A Analice representa bem a região, tem sido uma excelente companheira na Assembleia, debatendo as questões locais, trazendo recursos para o município, ajudando a cidade a se desenvolver, junto com o nosso prefeito, que tem feito o melhor para a cidade. Tá aqui uma mostra [exibe revista com balanço de três anos do governo municipal].

VERBO – O sr. veio preparado para esta entrevista. O que destaca em relação a obras feitas e que deverão ainda ser entregues até o fim deste mandato do prefeito?
Wilson – Três novas escolas… Eu moro no Marabá, minha filha estuda no Seninha, lá criou-se oito salas novas. A quadra do Marabá [foi] totalmente reformada. Ao lado, o que era um depósito de entulho virou uma UBS [posto de saúde], no Jardim das Oliveiras. Só naquela região na divisa com Campo Limpo tem uma base móvel da Guarda Municipal. A cidade está mudando, está melhorando. Temos o Poupatempo, fui lá há pouco tempo renovar minha carteira de motorista. Você vai de manhã e depois do almoço já busca o documento, olha que ganho para a cidade.

VERBO – Mas o sr. participou de um protesto em 2013 contra o Poupatempo na praça Luiz Gonzaga.
Wilson – Participei. Foi um ato do PT, eu participei como militante… Mas eu tenho que reconhecer uma coisa: aquele espaço foi bem utilizado pelo Poupatempo, em compensação a cidade ganhou a arena multiuso, um espaço extraordinário, para eventos, shows [está em obras]. Taboão nunca teve, agora vai ter! Não me venham falar que a praça Luiz Gonzaga é um espaço para isso. Não é. Quando vi pela primeira vez o projeto inicial, era para ter uma cúpula enorme onde as pessoas pudessem assistir teatro, show, com árvores em volta, onde as pessoas pudessem fazer exercícios com aparelhos. Mas aí virou aquele calçadão. Não dá, né? A cidade merece muito mais do que isso, [merece] o Poupatempo e o Bom Prato [que ainda não funciona no local].

VERBO – E como está a saúde? Os prontos-socorros tiveram mortes sob suspeita de negligência médica. A saúde recebe inúmeras críticas da população.
Wilson – E vai continuar recebendo, sabe por quê? A saúde nunca está 100%. Taboão melhorou muito a saúde, a UPA é um espaço extraordinário.

VERBO – Mas o prefeito fechou o pronto-socorro no centro [antigo PS Akira Tada].
Wilson – Fechou, mas para transformar num centro de especialidades, uma obra extraordinária. Você sabe que praticamente 30% das pessoas que são atendidas nos prontos-socorros municipais não são de Taboão da Serra. A saúde sempre vai ter problema. E, às vezes, por causa das pessoas. Um funcionário comete um erro, não se pode generalizar. A maioria dos profissionais são ótimos, agora tem aqueles que precisam de uma preparação maior. Recentemente, fui à UPA com minha filha, que tem asma, e, olha, não tive do que reclamar, fui atendido maravilhosamente bem, minha mulher até ficou impressionada.

VERBO – O sr. como militante novo, como recém-filiado, está com o discurso bastante afinado com o das lideranças do PSDB na cidade. Em muitos momentos me senti fazendo perguntas para o próprio prefeito.
Wilson – Pôxa [ri]. Obrigado. Isso vem da militância política. É aquela história, para você defender um ideal tem que conhecer. Como estou no governo, quero defender o governo, quero andar com isso [balanço da gestão] e discutir com a população. A gente tem que parar com a história de fazer a crítica sem conhecer. Desprender-se das ideologias, dos dogmas é entender a realidade, como um marxista. Agora, imagine um marxista dentro do PSDB [ri].

VERBO – Como será?
Wilson – Como será… Vamos ver, mas, como falei para a Analice, vou adorar os debates dentro do PSDB. A paixão pela política, hoje com outros olhos, é que me motiva. Quem gosta da política tem que ter motivação sempre, tem que ser valorizado, e estou me sentindo extremamente valorizado no PSDB. Eu nunca imaginei na minha vida a forma carinhosa como o Fernando, a Analice, como as várias figuras do PSDB me tratam, apesar das críticas que eu fazia ao PSDB, mas eram críticas políticas, né? Vou percebendo que perdi muita coisa.

VERBO – Agora como militante do PSDB, o sr. terá postura semelhante à de quando estava no PT…?
Wilson – Sem dúvida nenhuma. Terei uma postura semelhante.

VERBO – O sr. disse que quando estava no PT procurava o desgaste do PSDB. Agora vai ter a mesma postura em relação ao PT?
Wilson – Vou ter a mesma postura, e já venho fazendo isso. Eu vou fazer o desgaste político do partido, vou discutir com a população.

VERBO – Desgaste de que partido?
Wilson – Do PT. Vou fazer o embate político. Não tem essa não [de não fazer], sinto muito. Eu estava lá, sei como funciona, e vou fazer o desgaste. No PSDB sou um soldado, vou defender os ideais do PSDB, vou defender o grupo do qual faço parte agora, vou defender o Fernando, a Analice, vou defender os companheiros do PSDB.

VERBO – O sr. vai ter cargo no governo?
Wilson – Não. Vou fazer parte da campanha do Macário.

VERBO – Vai indicar alguém [para cargos no governo]?
Wilson – Também não. Não tenho cargo na prefeitura de jeito nenhum. Quem eu indicaria? Só se fosse alguém do grupo [do Macário]. E não tenho [para indicar], eu sempre fiz política sozinho, minha família nunca teve cargo nenhum. Minha irmã, no período em que estava na prefeitura, ficou dois anos desempregada. Nunca cheguei no Evilásio [ex-prefeito Evilásio Farias] e perguntei: “Evilásio, tem um carguinho para a minha irmã aí?” Não faço esse tipo de coisa, embora no governo tinha um monte de gente que fazia à beça.

VERBO – O sr. ficou [ocupou cargo] no governo Evilásio…
Wilson – Os oito anos [dois mandatos]. Aprendi muito. Tomei muita porrada também, não é fácil. Olha, é um desgaste imenso, e não ganha rios de dinheiro como muitos falam.

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  • Seriam apenas patéticas as declarações do “neo-tucano de esquerda”, não revelassem claramente o caráter do autor. Personalismo, ganância e servilismo evidentes. Wilson Antonio logo perceberá qual é o fim daquel@s que começam pela esquerda e terminam pela direita: sabujos da plutocracia que financiará suas diatribes contra os antigos princípios. Deplorável assistir à queda moral e política, ainda que seja reincidente este ex-militante. Visível que o indivíduo, a prevaler sua fala, desperdiçou a existência até a abjuração final, de olho no falso prestígio e no vil metal. Que lasque-se entre os chacais!

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