ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE
O Natal é a expressão do amor de Deus à humanidade em que Jesus “assumiu a nossa condição humana para que assumíssemos a condição divina, a própria condição dele”, diz monsenhor Thomaz Raffainer, 86, pároco-emérito da Paróquia-Santuário Santa Terezinha em Taboão da Serra. De acordo com o padre, os cristãos e pessoas de boa vontade atingem a condição divina “vivendo o amor entre nós”. “Não existe maior preparação para celebrarmos o Natal do que nos querermos bem. Sem o amor entre nós, não existe o Natal, é mentira o Natal”, diz em entrevista padre Thomaz, como prefere ser chamado, um dos sacerdotes mais admirados na região, diretor espiritual do VERBO ONLINE.
###
VERBO ONLINE – O Natal significa o nascimento de Jesus, mas surgiu em substituição à festa do Sol. A incorporação de uma comemoração pagã diminui o valor do Natal?
Mons. Thomaz Raffainer – De jeito nenhum! Não diminui pela realidade do fato. Dentre os pagãos, ele [Jesus] não era tão conhecido, mas para os primeiros seguidores, já era conhecido. Foi [ocasião de] reavivar a fé naquilo que já acreditavam, com antecedência, antes dos pagãos.
VERBO ONLINE – Qual o verdadeiro significado do Natal?
Mons. Thomaz – O Natal é expressão do amor de Deus para conosco para abrir-nos novamente as portas do céu. Assim como pelo pecado de Adão [de desobediência a Deus] perdemos, vamos dizer, o direito ao céu, pelos merecimentos de Jesus fomos perdoados, recuperamos aquilo que por Adão tínhamos perdido. O Natal é o ponto de encontro entre Deus e nós, por Jesus Cristo, que veio a este mundo e se fez nosso irmão. Então, o Natal é uma festa de fé e do coração. Jesus, com seu nascimento, veio trazer o reino do céu a esta terra, para torná-lo um reino de amor, paz, justiça e fraternidade. Esse é o centro da celebração do Natal.
VERBO ONLINE – Agora, na prática, como viver verdadeiramente o Natal, o autêntico sentido do Natal?
Mons. Thomaz – Essa é a questão central. Só tem um jeito: seguindo os seus ensinamentos [de Jesus]. Ou seja, o fundamento, a mensagem central do Natal é o amor entre nós. Até podemos dizer que a única fonte de amor, da caridade é Deus – amar a Deus sobre todas as coisas. Aí, a única maneira de manifestarmos o nosso amor a Deus, a porta de entrada do amor a Deus, qual é? O amor entre nós. Não existe maior preparação para celebrarmos o Natal do que nós nos querermos bem. Sem o amor entre nós, não existe o Natal, é mentira o Natal.
VERBO ONLINE – Como expressar isso concretamente nos dias de hoje?
Mons. Thomaz – Aí é que está. Com a caridade, o amor, ajudar-nos uns aos outros. Hoje centralizou-se tudo no comércio, o Natal se tornou uma festa comercial. Se dá dinheiro, é o maior Natal do mundo, se não dá dinheiro, não é nada.
VERBO ONLINE – O que o sr. diz?
Mons. Thomaz – Está errado! Senão acontece como este fato: uma mãe levou o filho pequeno para ver um presépio, chegou lá, tinha anjo que subia, tinha anjo que descia, outro com serrote na mão [desviando atenção do acontecimento central]. Quando o menino olhou bem o presépio, começou a gritar [surpreso]: “Mãe, mãe, vem ver aqui, tem um menino Jesus dentro do presépio!” Para você ver como está mudando tudo. Enquanto ficarmos só na parte comercial… Olha, presentes, votos de boas festas, tudo bem, fazem parte de nossa vida, mas se faltar compreensão, amor, fraternidade entre nós o Natal não passa de uma mentira, repito, não tem sentido nenhum na vida do cristão. O que faz o Natal lembrar o nascimento de Jesus é a união entre nós. Jesus, nascendo, assumiu a nossa condição humana. Para quê? Para que assumíssemos a condição divina, a própria condição dele.
VERBO ONLINE – E como se experimenta a condição divina?
Mons. Thomaz – Vivendo o amor entre nós. Só Deus é amor, só Deus é bom. Agora, é muito fácil você saber se Deus está presente no seu coração. Só medir o grau de amor em que vive com sua esposa ou esposo, seus filhos, parentes, amigos, enfim, com a humanidade, o mundo inteiro. O único jeito é esse, de acordo com os ensinamentos de Jesus! Só podemos celebrar o Natal se só nos queremos bem. Se não nos amarmos, não procurarmos o bem uns dos outros, o Natal não tem sentido.
VERBO ONLINE – O verdadeiro Natal se vive na solidariedade aos mais necessitados?
Mons. Thomaz – Isso! Tanto é verdade que Jesus fala que tudo o que você fizer pelo mais pobrezinho, mais miserável, mais abandonado dos seus irmãos, “é a mim que você está fazendo”. Jesus se identifica com essas pessoas que vivem abandonadas por esse mundo afora, rejeitadas por todos.
VERBO ONLINE – Ajudando de que forma?
Mons. Thomaz – Não só na forma material, mas também espiritual. Dando bom conselho, estando unido com as pessoas nas horas de tristeza, enxugando as lágrimas de quem está triste, assim por diante.
VERBO ONLINE – Visitar também? Aos doentes, por exemplo?
Mons. Thomaz – Principalmente! Quando Jesus foi ao templo – e costumava ir todo sábado -, deram-lhe o livro [sagrado], ele abriu e coincidiu de cair naquele trecho do profeta Isaías: “O Espírito Santo está sobre mim, me enviou para ajudar os pobres, os doentes, visitar os presos, enfim, fazer o bem, que é a missão de cada um de nós [cristãos], para celebramos o Natal. A vida vale a pena pelo bem que se faz. Repito: só Deus é bom, só Deus é amor. Agora, Deus nos escolheu para sermos os braços para nós manifestarmos a grandeza de seu amor. Então, o Natal quer nos lembrar o quê? A nossa missão de cristãos, Jesus, que se fez um de nós, vem pedir nosso auxílio, ou seja, Deus quis que nós fôssemos necessários ao seu amor. E qual o único jeito que ele estabeleceu para manifestar a grandeza do seu amor? Somos nós! Somos os braços de Deus, sempre que você fizer o bem, não é porque você é o bonzinho, é porque Deus é bom e o escolheu para manifestar o amor dele, que começou com o seu nascimento [de Jesus], na gruta de Belém, começou sofrendo antes de nascer. O sentido do Natal é aumentar o amor entre nós, Jesus nos escolheu para sermos os continuadores de tudo aquilo que fez, dividirmos a nossa vida com quem precisa, levarmos conforto.
VERBO ONLINE – O que diria para quem, por qualquer motivo, vai passar o Natal triste?
Mons. Thomaz – Não devia. Aí se coloca outra questão: a graça de Deus não destrói nossa condição humana. Aquele convite de Jesus, “Quem quiser me seguir tome a sua cruz e siga-me”, é permanente. Mesmo se somos íntimos de Jesus, nem por isso deixamos de ter a nossa cruz, nossos sacrifícios. A parte humana permanece sempre, nunca vamos ficar livres das dificuldades.
VERBO ONLINE – É para desanimar?
Mons. Thomaz – Aí que não! É saber que faz parte de nossa missão, e a manifestação do nosso amor a Deus é a fidelidade a nossa vocação, aquilo que assumimos perante Deus, e aceitamos pelos ensinamentos de Jesus. Foi ele que nos ensinou. E seremos recompensados! Como diz Jesus no Evangelho, seria como um segundo nascimento. No primeiro, ele nos traz a alegria de estar entre nós. No segundo, ele nos dá a alegria de julgar as nossas atitudes, nossa fidelidade ao seu amor, dando a recompensa para aqueles que foram fiéis àquilo que ensinou.
VERBO ONLINE – Qual sua palavra neste Natal!
Mons. Thomaz – Que cada um tenha o coração sempre aberto ao amor, dê mais atenção uns aos outros, não se deixe levar única e exclusivamente por presentes, mas lembre acima de tudo a grandeza do amor de Deus para conosco. Volto a repetir: Jesus se fez um de nós para que vivêssemos alegres e felizes. Em outras palavras, que este mundo fosse melhor do que está sendo. Para isso, precisa da nossa colaboração, Deus quer nosso esforço. Agora, temos que ser fiéis àquilo que Jesus quer da cada um de nós. E para sermos fiéis, devemos nos querer bem, evitar tudo o que acontece de errado, as injustiças, diferenças sociais. Feliz Natal a todos!
